terça-feira, 20 de junho de 2017

Dias assim e assim




Dias assim e assim

Pronunciaste-te distância. Estabeleceste uma linha divisória irreversível. E eu nem sempre sei a que lado pertenço. Lembro-me daquelas plataformas de bom comportamento, de que ouvi falar em sessões de catequese. Numa idade em que ainda tinha uns olhos arregalados para o mundo. O céu, o limbo e o inferno. Não me parece que em momento algum haja espaço para mim num recanto do céu. Pelo que ouvi dizer. Nesses tempos de outrora e em tempos bem mais recentes. Estou mais próxima do inferno. Pequei por palavras, atos e omissões. Pelo que fiz. Pelo que não fiz. Às vezes, pelo próprio facto de existir. Pelo que _ te _ ouvi dizer. Ignorei o sonho. Distorci a realidade. Passei ao lado das minhas atribuições. Desvalorizei sinais. E este é um dos meus pecados mais graves. Que me atira para o inferno de quase todos os meus dias. Dias de fogo. E de água. Em dias de limbo. É quando se sucedem os pontos de interrogação. É quando os braços pendem ao longo do corpo. É quando os olhos se apertam e se fazem pequeninos, pequeninos e não conseguem avistar terra para cultivar. Mas existe uma linha comum a todos os meus dias. Terminam todos eles numa queda desamparada para a linha vazia do horizonte.


BL

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