quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Des.con.figuração


A harmonia das coisas

dispersa no interior dos contornos. Fragmentada

pela mutabilidade



do olhar. O mesmo olhar

que segue o fio do pensamento

até ser o desalinhamento

dos pontos.



Um retângulo em branco.



A afastar-se



fugaz



até ser espaço

sem forma. Início

do abismo.



Partículas errantes

de silêncio.



BL

24.09.14

domingo, 21 de setembro de 2014

Esquecimento


Entrar por dentro da árvore

e com mãos firmes

cobrir os dias de folhas verdes.



Escavar no tronco um lamento

um refúgio de atalhos

e de esquecimento.



Ah, o esquecimento!

Barcos de silêncio a levarem

a pulsação dos caminhos largos.



As águas mornas

de onde renascesse rocha.



Até as palavras rolarem

e me entregarem à lonjura antiquíssima do tempo.



BL

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Não basta debruar o gesto




De repente, um olhar enviesado
a abrir a noite. Desarrumavas sorrisos
sobre um muro clandestino
a olhar à volta
a sacudir capítulos desconexos
a ordenar a anarquia dos pensamentos


[ com tantos nomes dentro ]

Precisavas de ocupar todos os espaços da alma
por detrás de um rosto
que não é o teu. Porque o teu
é esse espaço que habitas
quando pronuncias palavras
que te são indiferentes à voz.


Opacas.
Opacas as sílabas gastas
que inutilmente emprestas
quando os teus olhos bocejantes mastigam cansaço
e esquecimento.


Não basta debruar o gesto.

[ a solidão não basta ]

No mosto
ainda frágil
de um outono indeciso
seria fácil


[ e preciso ]

deixar viver um sorriso primaveril.

Que nascesse de um quase nada
de um momento de água
ou de uma nesga de céu


o meu

a recriar o teu.

BL
25.09.13



sábado, 13 de setembro de 2014

Nenhum lugar


O apelo da terra à lassidão do corpo

a cair centrífugo

em direção ao estalido do nervo.



A inabilidade das metáforas

no desvio do eixo

ou no pendor dos braços.



Chamas-me e soltam-se

pedaços do tempo

como janelas soluçadas onde encostei a voz.



Dás-me a tarde toda como

ombro_

_âncora entranhada na solidão.



Os lábios presos

ainda

ao deserto imenso dos medos desencontrados.



BL

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Mariposa




Aquela é a mulher

que tem medo da sombra.

Insinua-se na parede caiada de branco

pelo incêndio da tarde



cinge ao peito o fogo mais aceso da luz.



E voa

casulo e vendaval

ao silêncio prometido

dos pássaros.



BL