domingo, 8 de maio de 2022

Existe no meu voo um instante inconfesso


 





Existe no meu voo um instante inconfesso.

Morde o vento

arranha as águas adormecidas

de um mar que existe dentro de mim. Esta dor

extensa

[não extinta]

ou o acorde de piano que me leva a

atravessar o mundo. Placidamente.


Às vezes

os meus olhos são esse instante.


Como fogo

ou como chuva


como o fundo da memória

onde o silêncio se cala

e acorda as vozes que estão vivas

que vão e vêm do meu tempo de menina.


Os meus olhos a vibrarem

o ar quente a tocar o meu corpo

e a passar por cima do mundo. A transportar

aquilo que é importante.


O ar parado

o tempo quieto

e eu a ouvir a tua voz a dizer os nomes

das coisas importantes.


A tua voz a ser meu lugar.




BL

08.05.22