sexta-feira, 20 de setembro de 2013

Perfis de setembro

No olhos, uma trajetória
ainda inclinada ao prolongamento da cor. Um lugar
abrigado no eixo dos pássaros, onde palavras ociosas
respiram os rituais das árvores
e transportam nos dedos a geografia de um cais.

Chegam, em linha reta, os novos perfis
de setembro, como línguas de vento
a anunciarem os primeiros contrastes
dos regressos.

Conheço a oscilação da luz e sei
que é inevitável adiar a limpidez do silêncio.
Irremediavelmente renovar as tintas disponíveis
e os gestos desdobráveis

sobre o equilíbrio volátil
de um tempo exilado
na periferia das primeiras águas.

BL

sábado, 14 de setembro de 2013

Para lá do olhar




Como se pudéssemos colocar
na mão do pintor
o halo de luz
e a paleta de cores
com que entramos oceano adentro

e na memória de uma flor
lhe inventássemos o olhar.

Para que não fosse
demasiado tarde
para segurar as pedras
dos rios que correm.

BL




domingo, 1 de setembro de 2013

Saudade




Caminho repartida
por entre longes e metamorfoses do tempo. Envelhecendo
pólen e certezas
ecos das brisas que me sobram
de uma janela que cresceu
voltada para sul.

Desenho nas paredes
os rostos e os fascínios
por onde passa o coração da casa

ou talvez apenas
os sinais prometidos
do gesto circular dos regressos.

No calendário das solidões
o voo migrante das primeiras folhas.

Sigilosamente interrogo o verde breve de setembro.

Raízes de ausências
lugares de ruas desabitadas

retornam vazias
as minhas mãos.

BL