domingo, 28 de julho de 2019

O que sobrou do mar




Fiquei aqui mesmo vagueando entre

as memórias aglutinadas em redor do teu rosto

que esqueceste de levar

e deixaste suspenso em cada farrapo de tempo

quando partiste com hora marcada

sim

mas sem avisar.



E agora balanço

sou órfã de mim

e sem mim renasço

quando passo o meu corpo nas águas límpidas

em que abraço o outro lado do dia.



Coleciono as chuvas que sedes insanas

trazem ao olhar

revisito lugares e perco-me

quando busco a luz nas marés

e o uivo da falésia arrasta consigo

tudo o que sobrou do mar.



BL


quinta-feira, 25 de julho de 2019

Somos tão breves



Do labirinto das mãos estendem-se raízes
que falam da chuva como se

falassem de amor. Incapazes de refazerem o sol
mergulham na terra mãe

a procurarem um tempo aberto aos nomes
em que tudo sobrevive.

Viajam pelas paredes onde iludem
o aconchego de uma luz que lhes dê vida.

Mas nenhuma voz as toca
nem o corpo desistente das palavras.


BL

terça-feira, 23 de julho de 2019

Londres



Londres são lábios entreabertos
que saboreiam tranquilos
as cinco badaladas do relógio,
são bolhas de água invisíveis
sobre quilómetros de sorrisos,
é a pele envolvida numa película de luz
na travessia do rio,
é o rodopio incendiado
na dança com Eros.
Londres é a frescura repousante das águas memoriais
depois de anos de incertezas.

sexta-feira, 19 de julho de 2019

Acendo a noite




Vou por aí tateando imagens
fragmentos de nomes que descem a rua
poeiras de um tempo que flutua
numa trajetória paralela ao encantamento.

Voam os pássaros
numa teia de inexoráveis solidões
tombam sobre a terra folhas mortas
ligam os ciclos da vida e do vento
na crueza de um amanhã desfeito.

Guardo nas mãos um pedaço do mundo
sento-me a teu lado e acendo vagalumes na noite
para apagar as sombras do medo

e do sopro dos anos recolher o doce silêncio das palavras antigas
à espera de uma dobra do tempo que nos rasgue esta dor
meu chão minha seiva meu amor.


BL

quarta-feira, 17 de julho de 2019

"Where in the world are you now"


A minha pele submersa em silêncios

Não tenho como soltar dos meus olhos
as amarras de um tempo
pendurado em horas encharcadas de pássaros
e de mar
e de movimento.

Sigo o trilho das gaivotas
que transportam a luz nas nuvens da manhã
mas a noite continua a arder
e o tempo recusa-se a nascer
disperso em esquecimento.

E a minha pele submersa em silêncios
e as palavras desfeitas em infinitos grãos de areia
levados pelo vento
e os dias estilhaçados na mesmice dos espelhos
dormentes
a escorrerem pelo verso
lentamente
em gotinhas de solidão.

BL

sábado, 13 de julho de 2019

Pontes

Cabe-me ainda aprender
o tempo
compreender os enganos
e as estranhas moradas
do destino.


Perscruto a luz que se guarda
em pontes submersas
onde a raiz de um novo sol
se fortalece
e desenterra o fogo verde
de um corpo que em mim renasce
e aquece a minha essência.


Ancoro a minha deserta existência
visto das marés a turbulência
parto nas águas
da madrugada.


E na rota da morada restaurada
deixar-te-ei os meus versos
traços quentes do meu chão
gravados em letra morta se quiseres
abrir-te a porta.


BL

quinta-feira, 4 de julho de 2019

No outro lado do cais

Deambular entre a luz e a sombra
atravessar os caminhos da memória
paredes meias com rios suspensos e utopias silenciadas.

O tempo a escorrer por entre os dedos
em telas preenchidas de medos e anseios.

O verso a desenhar as marcas da lucidez
nas linhas que me conduzem
ou na profundidade das águas que me envolvem.

No desassossego das pontes
a luz refletida na voz solitária da palavra
e no silêncio que cai da oscilação das marés.


BL