domingo, 20 de março de 2016

Se eu chegar tarde à primavera


Se eu chegar tarde à primavera,
mostra-me onde fica a luz que resta
do inverno que dói
nas fendas da pele,


ou do vento
que geme ladainhas inexatas.


Se eu chegar tarde à primavera,
mostra-me onde fica
a chama da manhã no exílio dos pássaros,


ou então o silêncio profundo
da fusão das almas, na mortalidade
do tempo breve em que germina a sede
inútil e imprecisa, que antecede
o verão que há de chegar.


BL 

quinta-feira, 17 de março de 2016

Desconexão

A luz a entranhar-se
na lentidão da noite
derramada sobre o arvoredo.

Podia o silêncio acordar
e ser um murmúrio brando
uma paz interminável
a sussurrar eternidade.

E o tempo a querer ser
a voz de um tempo vivo
memória ou reencontro.

Pegar na palavra
e segui-la
como se fosse um sonho a acenar
um desejo a prolongar-te os gestos.

Soprar sementes nas manhãs
paradas. Exaustas. Doridas.

Convocar a imaginação.

Cair de pé.


BL
17.03.16