domingo, 22 de maio de 2016

Leves são os cardos








Escrever superfícies de prata

onde correm fragmentos das minhas mãos


a formularem sombras

ou sementes imbuídas de esperança.


Sonhar ainda palavras suspensas

em janelas de primavera


ou a cor de uns olhos

em que o tempo se perdeu.


Se ainda me levassem

as marés

pelas nascentes


e as estradas quase sempre

pólen de lua cheia

e horizontes abertos sobre o mar.


Se ainda fosse um rio

a luz

que se abre todos os dias.




BL

22.05.16





domingo, 8 de maio de 2016

A noite que choveu insónias


Desarrumar metáforas
subir à tónica da palavra
abrir janelas a jardins de luz
e de vento

banir do poema as brumas intocáveis
da noite que choveu angústias
e insónias

[ movimentos circulares em areais vulneráveis
ausência amarga
a acender urgências ]

Sonhar brilhos de espumas
na rebentação das ondas

quebrar solidões
com relógios de sol
e panos verdes.

BL
08.05.16


sábado, 7 de maio de 2016

Maio

Resistir às águas que
de dentro para fora desassossegam as horas.

[ trajetórias sinuosas
em volta de inquietudes desabitadas ]

Acordar mais além
mais perto de si mesma
como abrigo do sol
onde tudo recomeça.

Descobrir no cântico das árvores
o vento dos sonhos
caídos da invernia dos versos.

Esquecer silêncios em turbulências
desertas

ser palavra viva
e fresca

sem nuvens por perto.

BL
07.05.16

A convulsão das palavras

Lugar polícromo
sopro ou miragem
onde encosta a convulsão das palavras.

Caminha em círculos
sem princípio ou fim
sem limites
em torno de uma desesperança.

O silêncio.
Que se pode sobrepor ao zumbido do frigorífico.
Ou ao da arca frigorífica.
Ou aos estalidos das madeiras.
Ou às quedas dos pequenos objetos que caem ao chão
no piso de cima.

O silêncio.
Que pode ser um silêncio limpo
muito quieto
por baixo de um véu de chuva miudinha.
Música pura
dentro do pensamento.
Ou o pensamento a sorrir.

O silêncio.
Que pode ser um silêncio feroz
a vir do interior do pensamento
a latejar -lhe dentro dos ouvidos.


BL

sexta-feira, 6 de maio de 2016

[ ... ]

A preocupação. Que deixou de ser preocupação. É que, por detrás de uma preocupação, existem possibilidades. E, dentro daquilo que passa por ela, não se vislumbram limites. É como se caminhasse em círculos, sem princípio ou fim, em torno de uma desesperança.

O silêncio. Que se pode sobrepor ao zumbido do frigorífico. Ou ao da arca frigorífica. Ou aos estalidos das madeiras. Ou às quedas dos pequenos objetos que a T vai limpando e deixando cair, no piso de cima.

O silêncio. Que pode ser um silêncio limpo, muito quieto, por baixo dos sons da chuva miudinha. Música pura, dentro do pensamento. Ou o pensamento a sorrir.

O silêncio. Que pode ser um silêncio feroz, a vir do interior do pensamento, a latejar -lhe dentro dos ouvidos.


BL

quarta-feira, 4 de maio de 2016

Delírios

Encontrar um espaço azul
naquele ponto em que o tempo
para sob as águas.

[ Sombras suaves a flutuarem na luz ]

Deslizar de um corpo em forma de pedra.

Poder ser real
substância
imune às arestas das sílabas.
Serenar a alma
e ouvir o vento cantar.

BL
04.05.16