sexta-feira, 22 de agosto de 2014

os lugares das coisas


tudo o que eu precisava era

saber como fusionar os dois lados

do tempo



aceitar-me no exato ponto

de fusão



em que a vida amadurece

e os sinais se abrem

como bússolas



e os lugares das coisas

a saberem pronunciar o meu nome.



BL

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Caem silêncios dos teus olhos




Dói-me a tarde
nos teus olhos.

A desenharem setembro
a apagarem agosto

quase deserto

[ quase memória ]

E o teu sorriso
trémulo
a contornar as sílabas
mal traçadas

[ ou do tempo a mágoa ]

Caem silêncios sobre a água
voo breve das palavras.

Sinais do sol

[ ou recomeço ]

Caem silêncios dos teus olhos.

Linguagem indecifrável
de um muro por onde corres

corres

ilusoriamente só.



BL

terça-feira, 12 de agosto de 2014

Estranhamente doce




 
 
 
É aqui
que os dias se cruzam


espartilhados

como a
sede da gaivota onde ironicamente


agoniza
o verão.


São
longas as horas e o silêncio alonga-se


nas ruas
que dormem


na
inocência de sílabas proibidas.


Sei de
um equilíbrio impreciso


ou da
sombra errante que me amarra as memórias


à voz
que me rodeia o nome.


Tão
breve como a lucidez da folha


tecida
na sede das mãos


cresce
nos meus olhos


um
abrigo de água


estranhamente
doce.


BL

sábado, 9 de agosto de 2014

Pegadas





 
 
e aqui voltei

mergulhada numa luz de longe


entre mim

e o que de mim deixei


réstia transparente

de um tempo de estio


âmago da vida

entre o vento e o rio


silêncio e searas maduras

um quase sossego do verso


labirinto de cores

no ventre da terra


viagem metamórfica

à mais funda raiz do poema.



BL