quarta-feira, 18 de junho de 2014

Escrevo pontes dentro de mim


Debruço-me sobre o rio e escrevo

pontes dentro de mim.

Penso em nós

límpidas palavras de água a tocarem-nos os rostos

caminhos invisíveis

a transporem as margens.



Na ponta dos meus dedos, o rio

é voo impossível onde me abrigo.

Viagem inconfessa do coração dos pássaros.



Deixo-me tocar pelo silêncio das horas

e tudo chega e existe junto de mim.

Repouso os olhos cansados

nos barcos demorados na espiral do poema.

Canções antigas. Fascínios que dormitam.



Desarrumo as memórias pelo céu.



É necessário partir

e anunciar as sementes da manhã.



BL

06.06.14

domingo, 15 de junho de 2014

No reverso do reflexo




Retida no reverso do reflexo
segue os retalhos do tempo
subindo os olhares das estradas


escorrega na sombra do centro
arruma portas e abraços
enterra relógios
retratos


subtrai a crispação do silêncio
ilude a mutilação da noite
amordaça a culpa desfocada


engole a mudez do pensamento
desata os nós da palavra
voa no horizonte do vento


suspende-se
parágrafo
nos ramos das estrelas
sente os luares da semente
e renasce


nasce madrugada
cresce redenção


ah! as fotos!

as fotos depois dirão.

Brígida Luz