sábado, 20 de julho de 2013

Monólogo



O branco da noite
a entornar-se na folha.
A projetar nas paredes
fagulhas da memória,
sombras exaustas,
tentativas de reler sentidos em crenças interrompidas.

Ardem-me nos olhos os lugares
onde as árvores sobrevivem.

Cola-se ao interior das mãos
um refúgio da solidão,
uma história de conchas improváveis.

E a página desdobra-se,
lentamente,
sobre nostalgias adormecidas
e diálogos que suspendi em frestas de esquecimentos
ou no descampado dos dias.

Volto-me então para a luz secreta
de um tempo que dorme no calendário do meu corpo
e engano outonos anacrónicos
no monólogo que me resta
no lado de dentro das palavras.

BL


4 comentários:

  1. E o poema não é sempre um monólogo de paisagens diversas?
    Um grande abraço

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  2. Que enorme talento! Mais um belíssimo poema! <3

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  3. Há sempre uma luz

    na nossa sombra preferida

    Bj

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  4. É nessa luz secreta, Brígida, que reside a capacidade de transformar o cenário dos caminhos...

    Beijo :)

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