domingo, 5 de agosto de 2012

Plano inclinado



Passa por mim uma brisa fria
na beira do fim

e eu deixo-me ficar.

Desconcentram-se as sílabas ditas
param até de inspirar

e eu deixo-me ficar
só.

Escorre o mundo
pela planta dos meus pés
desnuda-me a desimportância das coisas

e eu deixo-me ficar.

Fecham-se os olhos
secos
porque secaram todas as gotas
da água que circulava em mim.

A  pele move-se
desliza
como se quisesse transcender
os limites da memória
em que a obrigo a viver.

E eu
deixo-me ficar

no silêncio
do filamento quebrado

dos grãos de areia
onde enterro os dedos.

Escrevo na terra palavras sós
e sinto o ar a  passar entre as unhas
e a minha liberdade.

Pode ser que em cada nova letra
a história comece de novo
a respirar.

E eu consiga então

não me deixar ficar

só.

BL


7 comentários:

  1. triste, melancólico, mas muito bonito! Tenho a certeza que a história, um destes dias, voltará a respirar...

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  2. Profundas são as águas que nos envolvem, dissimuladas são as linhas que nos conduzem...
    A tua poesia é francamente inspiradora!

    Beijo :)

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  3. Bonito apesar de triste, mas também a tristeza tem uma beleza subtil que a alma reconhece.

    Bjs

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  4. Inclinam-se os planos e os versos
    Dobram-se os silêncios nos medos
    Desnudam-se frias silabas em asfixiadas palavras

    E Eu?

    Pode ser que o verso seja regresso.


    Intimo e denso

    Belo

    Bjo.

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  5. Tenho lido o que escreves, sem nada te dizer. Não porque não queira, mas porque não sei explicar-te o quanto a tua poesia me toca e diz o que sinto, e não saberia nunca dizer.
    Admiro-te!
    Sim, é isso. Hoje queria dizer-te isto!

    Um beijinho e obrigada.

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  6. Bela esta melancolia.
    Muitas palavras nos traz por vezes o silêncio.

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  7. Olá Brígida,

    "Escorre o mundo

    pela planta dos meus pés

    desnuda-me a desimportância das coisas

    e eu deixo-me ficar"

    Ficar leve,livre e sem o peso do mundo... Caminhar no sentir,

    que contacte com a essência da vida em instantes...

    Muito bela e profunda a tua poesia.

    Gostei muito de ler-te!!

    Bj.

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