sábado, 23 de agosto de 2025

As horas dormem com os olhos abertos

 





Esta noite

decidi nadar no céu.

 

 As nuvens eram feitas de vidro

e um peixe

com asas de papel

ensinou-me a respirar palavras.

 

A cidade flutuava

cheia de portas sem casas

e janelas que mostravam memórias

de quem nunca existiu.

 

No quarto

em espiral

as paredes conversavam baixinho

em dialeto de sombras

e o chão pedia-me para andar de costas.

 

Vi-me ao espelho.

Era uma árvore com corações pendurados

cada pulsação um poema esquecido

que o vento lia em voz alta.

 

E quando acordei

sob um teto de aurora boreal

soube que os sonhos só existem

para nos ensinarem

a acordar devagar.






BL

23.08.25






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