sábado, 16 de agosto de 2025

Dialeto da chuva

 





Não era falta.
Era húmus.
Matéria antiga

a respirar sob os pés.

 

O cheiro subia em espirais
como se a memória tivesse raízes
e a ausência germinasse em cada gota que caía.

 

Era o chão que falava
num dialeto de silêncios

de folhas que tocaram corpos
e nunca esqueceram o contorno.

 

Tudo era lento.
Como se o tempo

encharcado
escorresse pelos sulcos da pele.

 

E eu

meio lama

meio lembrança

 

ouvia a chuva falar 

em sílabas estranhas 

como se guardasse segredos 

que só o vento entendia.




BL

16.08.25






 

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