sábado, 24 de novembro de 2012

Carta a minha mãe



Suspenderia o tempo
nas flores de miosótis em que tecias o azul das tardes
e a limpidez dos teus olhos vertia na minha pele
a luz onde a estrada começava
e crescia
a (en)formar o gesto
e a palavra.


Escutavas os meus cansaços
entre o perto e a lonjura
das minhas assimetrias
e nas tuas mãos de abrigo eu sentia
o tronco da sabedoria
quando às minhas verdades inteiras
tu sorrias
tu sorrias.


Por vezes sabe-me a lodo
a estrada
derrama-se pelo chão a linha do horizonte
consomem-se os dias
por entre a nostalgia da terra molhada.


Ajusto o tempo à memória
e na textura da tua voz
regresso à doçura da casa
no silêncio de um tempo de raízes e regaços
que flutua na poeira dos meus passos
entre as rugas do crepúsculo
e os escombros das esperas.


BL

9 comentários:

  1. É sempre mais saboroso o atingir da meta quando o caminho é difícil.

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  2. Suspender o tempo na memória do verso

    Belo e tocante


    Bjo.

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  3. Belíssimo!!!

    Fiquei muito emocionada,querida Brígida.

    Beijo.

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  4. talvez o tempo se tenha suspendido na flores azuis,

    que atravessaram os mundos.

    muito tocante e belo.

    Beijos

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  5. Olá Brígida!
    Uma carta-poema que me emocionou. Quantas vezes sinto falta das" mãos de abrigo" onde também eu " sentia o tronco da sabedoria". Ah! Como recordo com saudade o se regaço e o seu sorriso.Um grande abraço.
    Maria Emília

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  6. A mãe é sempre porto de abrigo, ainda que por momentos...
    Belo e tocante, Brígida!

    Beijo :)

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