terça-feira, 22 de julho de 2025

Com vagar

 




Deslizo

com vagar
pelas margens do vento
 
nos passos de um nome
que ainda arde.
 
[se vieres
vem inteiro
não te escondas no gume dos gestos
não me deixes só
a fiar ausências]




BL
22.07.25





domingo, 20 de julho de 2025

A suspensão do instante

 




imensa
a estrela sem nome derrama
o silêncio sobre o campo
suspende o tempo
acorda
as raízes

desliza pelas encostas
persiste nas nuvens
oscila

a bruma engole
os contornos
satura
o instante

em baixo

o rio
esconde promessas
rumores
luz quebrada

cada pedra
evoca
memórias intactas
abriga
a noite inteira

na varanda
a pele cansada
espera





BL

20.07.25






sexta-feira, 18 de julho de 2025

Sabia-te vento

 







Senti a pele da água

tocar o fundo da lembrança

fria

e fiel

[ uma língua que não se aprende ] 



Sabia-te vento

nos braços da raiz

quando o chão ainda falava

em pulsações antigas.



Há olhos que colhem

o quase-nada

e fazem dele

eternidade.



No consolo da imagem

o corpo despe-se do peso da armadura.

Não em fuga

mas por desejo de leveza.



E se tudo for ilusão

então que essa me console



como o sopro do mundo

nas cinzas da terra.





BL

14.07.25







terça-feira, 15 de julho de 2025

Entre silêncios

 





Entre o segundo café

e a sombra da tarde

o mundo muda de cor

e o tempo curva-se

sobre si.


Clarões de lucidez

chegam sem nome

sem hora marcada. Relâmpagos

não pedem licença

e trituram o silêncio em mil verdades.


Distingo vultos

dentro da neblina

desenho contornos de ausências


e entendo memórias

sem lembrança.


Como quem abre os olhos

no meio do sono

e reconhece o próprio nome

na voz

de um pensamento esquecido.






BL

15.0725





sábado, 12 de julho de 2025

Van Gogh mordeu-me

 





Dançam os girassóis na boca do lume
pinto com dedos de sombra
os traços impronunciáveis.


São memórias em carne viva
folhas abertas sobre o peito
onde o tempo repousa e sangra.


Dizem que o amor é só miragem
mas eu vi estrelas acesas
nos olhos de quem ficou


e em cada pétala tremem
as promessas que a noite engole
quando o desejo se curva à ausência.


Componho altares de silêncio
e entre cada beijo por inventar
a chama soletra o teu nome.


Van Gogh sorri do fundo da tela.


É preciso ser flor para entender
aquilo que a luz guarda no seu grito.




BL

12.07.25





sexta-feira, 11 de julho de 2025

Fragmento em contraluz

 







Rasguei a ausência

com dedos lentos

como quem se despe do tempo.


Aprendi a pele

na fricção suave dos dias


mesmo os dias que sangravam.



Aquele verão tinha margens de sal

e procurávamos terra

em bocas de fruta

sem polpa

sem perdão.



Tu eras voo

entre raízes.


Eu

um mapa sem norte
a tropeçar em sombras verdes.



Hoje

somos silêncio em trânsito.


O teu olhar

promessa aérea


o meu corpo

véu em combustão.



Neste lado da memória
o sol pisca palavras quebradas.


E a borboleta

imóvel

e sábia


murmura nomes esquecidos
sem idade

e sem língua.



No outro lado do tempo
a tarde escorre


como rio que não sabe
onde começa o mar.






BL

11.07.25








sexta-feira, 4 de julho de 2025

Ritual de permanência

 





Escrever é abrir sulcos

em pedra adormecida



tornar gesto a memória do toque.

Como quem ateia brasas no ventre do escuro.



Num qualquer lugar sem mapas

onde o abismo tem paredes de silêncio



encosta-se o olhar à vertigem

e o corpo habita a lentidão

daquilo que se mantém ausente.



Entre ruínas invisíveis

ergue-se um altar de ecos. Vozes submersas

vibram

na ossatura do tempo.



Nomeia-se o infinito

na espessura da sílaba.



Permanece-se.







BL

04.07.25






quinta-feira, 3 de julho de 2025

Sem destinatário





 

É neste quase-nada

que o corpo reaprende o peso da sombra

o frio da espera

a vertigem de escrever

sem destinatário.



Memórias estilhaçam-se

num tempo interior

que pulsa no silêncio.



Reza-se uma oração

sem fé



apenas para não esquecer a voz.



A espreitar um universo suspenso

entre o instante

e o infinito.



Escavam-se camadas

de uma luz imóvel



num ritual

de existir

entre escombros.





BL

03.07.25







terça-feira, 1 de julho de 2025

Mais de água do que de pedra

 






Um refúgio

à margem

do silêncio.

Mais de água

do que de pedra.

Que molde

dissolva

transporte.

Talvez uma busca

pelo coração secreto

da casa primordial.

Um rio fluido

que não escape entre os dedos.

Beleza líquida

feita de vento e memória

neste lado do tempo.

Um reencontro de palavras

pele

e sal

como quem guarda um frasco de mar

à espera da próxima onda.





BL

01.07.25







Auscultação da ausência

 




havia uma brisa

suspensa no limiar da espuma.

e um eco

circular

a transportar o voo dos pássaros.



um murmúrio.

tão vago.



e a ausência



liquefeita



entre a curva

do teu silêncio.



o tempo gotejava

das minhas mãos quietas

musgos acesos de sombra.




BL

01.07.25

segunda-feira, 30 de junho de 2025

Arquivos líquidos do corpo

 






Os dedos passam pela pele da água

e esquecem que são corpo.

Escuto.

É a infância

a sede

os nomes de quem partiu

sem dizer adeus.



Há vozes que só a água entende.



Pulsam

na vibração dos gestos que permanecem

transfigurados.



Tenho rios por dentro

estações que não chegaram a acontecer

e um mar antigo

que se move

quando fecho os olhos.



Há vozes que só a água guarda.



O sal sabe histórias do meu nome

antes de mim.



Cada lágrima é um mapa.



O corpo lê-se em camadas de sal.

As quedas

os toques

as ausências que molharam os ossos.



Há palavras que não sabem ser ditas.



Guardam-se

entre vértebras de silêncio

onde a água decanta a dor

escrita por dentro.






BL

30.06.25









domingo, 29 de junho de 2025

Liturgias do silêncio







Em cada silêncio

um olhar suspenso

espiral de sombra e resina.


Linguagens oblíquas a dormirem

no dorso da luz.


Nomes de outrora

peixes de papel

a desabarem no hálito do tempo.


Os passos progridem

fendas na terra onde crescem

flores de ausências.


Lugares antigos de pele

e de instantes


ecos translúcidos

quase canto

quase cinza.


E aquilo que perdura

afunda-se em presságio.






BL

29.06.25









sexta-feira, 27 de junho de 2025

Ladainha do corpo aceso

 







Diz

corpo

onde começa o incêndio.



Diz

boca

o nome que queimaste.



Diz

pele

onde mora a ausência.



Arde.

Arde o que se cala.

Arde o que se lembra.



Repete

terra

a dor dos passos.



Repete

vento

o sopro que fugiu.



Repete

tempo

aquilo que não cede.



Arde.

Arde a voz.

Arde o toque.

Arde o altar do silêncio.



Clama

peito

por um céu que não responde.



Clama

gesto

por um fim que se recuse.



E o que sobra

reza.






BL

27.06.25








quarta-feira, 25 de junho de 2025

Cartografia do adeus

 







Existem palavras que ardem

antes de serem pronunciadas.


O teu nome.


Dentro do teu nome

comecei a riscar

as margens do mundo.


Com a caneta embriagada

de ausência

e a luz desligada

pela pressa dos dias.


A manhã encostava-se

às paredes


como um animal faminto

perdido entre a memória

e o instinto.


Nenhuma teoria me valeu.

Nem Freud

nem mapa astral.


O amor não cabe em esquemas

nem a dor se resolve

por equações.


Aprende-se tudo ao contrário.


Primeiro o fim

depois o presságio.


E entre os dois

o fumo


a engolir os pulmões

devagar

como quem aprende a morrer

por dentro.


Dizem que se pode morrer

de sede

no meio do mar.


Eu morri

de ti

com todas as letras

que te escrevi

e

    que

            nunca

                       soubeste

                                        ler.






BL

25.06.25

segunda-feira, 23 de junho de 2025

Entre a raiz e o céu

 




Moves-te entre sopros de tempo

e frases suspensas

às vezes distraído com mil ruídos

num compasso de incerteza

e desassossego.


Caminhas entre a raiz e o céu

seiva invisível entre as margens

do que és

e do que te sonhas.


Respiras a memória dos retratos

vidro líquido

lume aceso em lareira de sílabas

para que o verbo se desfaça

e volte a ser semente.


E eu

guardiã de murmúrios

esperarei por ti

com um espaço guardado no tempo


como quem bebe um silêncio morno

ao fim do dia.




BL

23.06.25












quinta-feira, 19 de junho de 2025

Antes do chão

 






O tempo encosta-se

ao meu corpo

devagar.

Já não dói

é peso

como um nome a esquecer.


Os passos desfazem-se

antes de tocarem o chão

e o eco

[ se ainda existe ]

aprendeu a calar-se.


A luz não ilumina.

Passa por mim

como mãos que não sabem despedir-se.


Há uma morte que não chega.

Ocupa o espaço

entre o meu olhar

e o mundo.


A despedida vem sem rosto.

Acontece dentro de mim.

Um desfiar lento do que sou.

Não há corte.

Somente ausência

a escorrer pelos dedos.


Algo se molda

em silêncio

no outro lado do instante.


Tudo o que fui

perde contorno.

Tudo o que vem

ainda me desconhece.


E aqui

neste intervalo do quase

sou pele

a (des)aprender a memória.






BL
19.06.25









sexta-feira, 13 de junho de 2025

Arquitetura líquida

 




Nada repousa.

As formas dissolvem-se no tempo

escorrem


[ escorrem ]


pelas frestas da incerteza.


O chão flutua.

Flutua


[ flutua ]


perde-se


ilhas de matéria desfeita

arquitetura líquida

fluida

fundida

onde os mapas se desenham

e apagam.


Corpos são sombras em suspensão.

Reflexo incerto.

Sombras



[ sombras ]



 vacilantes.



E o verbo

outrora raiz

ondula

breve

dilui-se

desfaz-se.


No silêncio

onde tudo se transforma

somos ecos

ecos à deriva

vestígios de um lar sem margens.







BL

13.06.25














terça-feira, 10 de junho de 2025

Espinhos de rosa branca em páginas de algodão

 




Ninguém toca o pergaminho intacto.

O papel

brando e impassível

esconde cicatrizes

que não se confessam.



No ventre de páginas desfeitas

sangram raízes de um nome esquecido

silabário rasgado em espinhos vorazes.



O algodão sufoca o verbo

repousa como véu sobre um tempo morto



[ fantasma mudo de histórias sem retorno. ]



Entre frestas

o silêncio trama a sua emboscada.



E a rosa

espectro pálido

devora o espaço

com a sua sede branca.





BL

10.06.25








domingo, 8 de junho de 2025

Traz-me cor

 







Traz-me cor

enche-me o peito de madrugada

espalha incêndios na pele fria

desenha marés vivas

onde o silêncio me habitou.



Traz-me cor

como quem rasga o silêncio

como quem semeia tempestades

e colhe relâmpagos num mar a perder de vista.



Dá-me a febre das pétalas amarelas

o grito das folhas ao vento

a dança insaciável de sóis em fuga.



Que a luz consuma os meus medos

que os dias derramem desejo

que a noite se curve ao fogo

sem resistência.



Dá-me cor

e traz contigo esse fio de lume

que ainda arde nas entrelinhas


para fazer vibrar

o que nem sempre se nomeia.




BL

08.06.25








quinta-feira, 5 de junho de 2025

Seguiremos pelo que há de vir

 





Seiva.

Seremos seiva.


Renovação da matéria

após a invernia.


Dobraremos a esquina

e seguiremos

pelo que há de vir.


Dobraremos a esquina

onde o vento ensaia promessas

onde a luz dança nos muros gastos

e as sombras se escondem do tempo.



Seguiremos pelo que há de vir.



Pela seiva que desperta nos troncos

pelo ouro que repousa na pele da tarde

pela vertigem

de não saber

de querer sentir.



O horizonte acena sem pressa

como quem sussurra segredos antigos.



E nós

movidos por uma voz qualquer

seguimos.



Apenas seguimos.





BL

06.06.25







terça-feira, 3 de junho de 2025

Não olhes para o limite do chão

 






Não olhes para o limite do chão.

O que há ali

senão a promessa de um fim?



Um contorno imposto

uma linha fabricada pela urgência da contenção.



Não olhes para o limite do chão.

Porque há um outro espaço

onde a pele respira sem nome



onde a vertigem pode ser

voo sem destino.



Há uma fissura no tempo

uma fresta por onde escorre a memória.

Um grito sem forma

a rasgar a carne do silêncio.



O chão não é a resposta.

Nunca foi.



O chão é só um eco

um reflexo

um palco onde o medo ensaia os seus passos



enquanto a luz é dança

livre

leve

num horizonte

em fogo.






BL

03.06.25







segunda-feira, 2 de junho de 2025

Não saias desta desordem das coisas

 






Não fujas.

Ainda há sentido no que se espalha

nos cacos que não se encaixam



mas brilham

na luz oblíqua do dia.



O caos sustenta o que pulsa

os objetos empilhados

sem ordem

ainda contam histórias de mãos que passaram

de vozes que permaneceram.



O que é harmonia

senão o intervalo entre dois desencontros?



Se tudo se alinha

onde sobra espaço para o que vive?



Não saias.

Fica na dobra do improvável



onde as coisas respiram

sem pedirem permissão.





BL

02.06.25








domingo, 1 de junho de 2025

Tira-me deste corpo insuficiente

 






Há um limite na pele

uma fronteira de ossos

que não contém o que pulsa.



O espaço dentro de mim é estreito

um grito sufocado

um corredor sem saída.



Se ao menos fosse outro

o tempo desse corpo



se ao menos fosse vento

e não cárcere

a matéria.



Mas prossigo

palavra incompleta



à espera da sílaba exata

que me desdobre em vastidão.





BL

01.06.25







Avisa-me, quando eu puder saber o teu nome

 



Quando a noite for mais do que ausência

e eu souber ler o silêncio

nas entrelinhas do vento



quando as palavras deixarem de ser promessa

e o tempo não for apenas espera



quando a tua voz não for apenas um eco

e eu puder tocar a forma do instante

sem medo de que ele se desfaça



quando eu souber se a tua ausência é escolha

ou desígnio de algo maior



então

avisa-me.



Avisa-me

quando o tempo permitir

quando o vento decidir que já não é cedo

nem tarde demais.



Avisa-me.

Quando o nome já não for só palavra

mas gesto

pele

reconhecimento.



Sem medo.



Quando eu puder chamar-te

pelo teu nome



então

ficarei a saber que estamos

a flutuar

agarrados a este chão.










BL

01.06.25

domingo, 25 de maio de 2025

Bastavas tu

 






Somente a ótica da paixão

criava o ilusório movimento do encontro.


No rosto da ilusão

cabia a dimensão eufórica

que floria num discurso de sonhos.


Eu recolhia a tua voz

e pensava em itinerários feitos

de barcos perdidos.


Bastavas tu

e a inocência das palavras

nas minhas mãos de luz.


Deixava de interrogar

a voragem do mar e a escuridão das perguntas

que o meu corpo reclamava.


Bastavas tu.

E os teus olhos tão líquidos

como o azul infinito das marés.





BL

25.05.25






sexta-feira, 23 de maio de 2025

Dizem que é de manhã

 






Dizem que é de manhã

a sala cheia de móveis e de coisas baças

a primavera amadurece


mas tu desces

em direção a outro tempo

a outras histórias.


E eu imagem de um filme mudo

estou sempre e nunca

a voz em entrelinhas


reflexão e reflexo

entre a soleira e a porta


último gesto da luz

a desfazer-se na sombra.





BL

23.05.25






quarta-feira, 21 de maio de 2025

Fazes-me falta na retina do tempo

 








Fazes-me falta na retina do tempo

um tempo de outras horas

de tardes lentas

e suspiros líquidos.


Borboletas de luz traçam órbitas

na nebulosa do pensamento

desenham trilhos de silêncio

nas margens da memória.


Lampejos onde a saudade repousa

o teu nome na ponta dos dedos

ecos antigos nos traços do vento

ruídos alucinantes

como sonhos que falam noutra língua.




BL

21.05.25






terça-feira, 13 de maio de 2025

Evanescência

 




O silêncio pesa.

Um monólogo de zumbidos

sobre a pele.

O tempo dobra-se

e desfaz-se num ponto incerto.


Na memória

os passos que não dei

contornos de futuros

vozes multiplicadas por pretéritos.


Deslizam murmúrios pelo vento

fragmentos de nomes

sobrepostos.


E

no gemido solitário da noite

só a ausência me espera.





BL

13.05.25







domingo, 11 de maio de 2025

O vento murmura uma ausência antiga

 




Desvio o olhar

das mágoas que me consomem

raízes que se agarram à pele

murmúrios embebidos de vazio.



A poeira

cúmplice do esquecimento

envolve-me

desfaz contornos

dissolve vestígios

arrasta memórias

em exílio cego.



O vento murmura uma ausência antiga

um eco a deslizar nos sulcos do corpo

sombras errantes

náufragas

à deriva

na neblina espessa do tempo.






BL

11.05.25






domingo, 4 de maio de 2025

No desacato do desencanto

 




No desacato do desencanto

a árvore veste-se de insubmissão

desafia o vazio

e faz do abismo a sua morada.



Uma fúria silente

arrasta ruínas

sussurra segredos

em dialetos de nuvens.



As horas dançam

com fantasmas de fogo

o tempo joga aos labirintos

o infinito desaba

em espirais vertiginosas.



Peixes deslizam

nos espelhos partidos

e as sombras sorvem

vagarosas

a luz desfeita.



No desacato do desencanto

sou cúmplice de asas

trémulas

de mares que rugem

em sentido inverso.



E é nesse caos

nesse vórtice de absurdos

que o desencanto renasce

ofegante

e feroz.







BL

04.05.25






sábado, 3 de maio de 2025

Sob a engrenagem das marés

 






Pressinto um frio sem refúgio

nesta vertigem das palavras

casa incerta

quando as noites acordam

e atravessam manhãs encandeadas de crepúsculos.

Às vezes feitos de lâminas

lugares de ventanias onde estala a tempestade.


Os dias revolvem-se

em gestos de esquecimento


alinham-se no tempo

sob a engrenagem das marés.


As palavras

aves exiladas

deslizam pelos estilhaços da luz

num voo sem abrigo

até se desfazerem em ervas daninhas

onde a memória se escreve

a sangue e vento.


E entre os rastos do dia

sopram cânticos de cinzas

vozes de um horizonte afundado na garganta das horas.




BL

03.05.25