quinta-feira, 5 de junho de 2025

Seguiremos pelo que há de vir

 





Seiva.

Seremos seiva.


Renovação da matéria

após a invernia.


Dobraremos a esquina

e seguiremos

pelo que há de vir.


Dobraremos a esquina

onde o vento ensaia promessas

onde a luz dança nos muros gastos

e as sombras se escondem do tempo.



Seguiremos pelo que há de vir.



Pela seiva que desperta nos troncos

pelo ouro que repousa na pele da tarde

pela vertigem

de não saber

de querer sentir.



O horizonte acena sem pressa

como quem sussurra segredos antigos.



E nós

movidos por uma voz qualquer

seguimos.



Apenas seguimos.





BL

06.06.25







terça-feira, 3 de junho de 2025

Não olhes para o limite do chão

 






Não olhes para o limite do chão.

O que há ali

senão a promessa de um fim?



Um contorno imposto

uma linha fabricada pela urgência da contenção.



Não olhes para o limite do chão.

Porque há um outro espaço

onde a pele respira sem nome



onde a vertigem pode ser

voo sem destino.



Há uma fissura no tempo

uma fresta por onde escorre a memória.

Um grito sem forma

a rasgar a carne do silêncio.



O chão não é a resposta.

Nunca foi.



O chão é só um eco

um reflexo

um palco onde o medo ensaia os seus passos



enquanto a luz é dança

livre

num horizonte

em fogo.






BL

03.06.25







segunda-feira, 2 de junho de 2025

Não saias desta desordem das coisas

 






Não fujas.

Ainda há sentido no que se espalha

nos cacos que não se encaixam



mas brilham

na luz oblíqua do dia.



O caos sustenta o que pulsa

os objetos empilhados

sem ordem

ainda contam histórias de mãos que passaram

de vozes que permaneceram.



O que é harmonia

senão o intervalo entre dois desencontros?



Se tudo se alinha

onde sobra espaço para o que vive?



Não saias.

Fica na dobra do improvável



onde as coisas respiram

sem pedirem permissão.





BL

02.06.25








domingo, 1 de junho de 2025

Tira-me deste corpo insuficiente

 






Há um limite na pele

uma fronteira de ossos

que não contém o que pulsa.



O espaço dentro de mim é estreito

um grito sufocado

um corredor sem saída.



Se ao menos fosse outro

o tempo desse corpo



se ao menos fosse vento

e não cárcere

a matéria.



Mas prossigo

palavra incompleta



à espera da sílaba exata

que me desdobre em vastidão.





BL

01.06.25







Avisa-me, quando eu puder saber o teu nome

 



Quando a noite for mais do que ausência

e eu souber ler o silêncio

nas entrelinhas do vento



quando as palavras deixarem de ser promessa

e o tempo não for apenas espera



quando a tua voz não for apenas um eco

e eu puder tocar a forma do instante

sem medo de que ele se desfaça



quando eu souber se a tua ausência é escolha

ou desígnio de algo maior



então

avisa-me.



Avisa-me

quando o tempo permitir

quando o vento decidir que já não é cedo

nem tarde demais.



Avisa-me.

Quando o nome já não for só palavra

mas gesto

pele

reconhecimento.



Sem medo.



Quando eu puder chamar-te

pelo teu nome



então

ficarei a saber que estamos

a flutuar

agarrados a este chão.










BL

01.06.25

domingo, 25 de maio de 2025

Bastavas tu

 






Somente a ótica da paixão

criava o ilusório movimento do encontro.


No rosto da ilusão

cabia a dimensão eufórica

que floria num discurso de sonhos.


Eu recolhia a tua voz

e pensava em itinerários feitos

de barcos perdidos.


Bastavas tu

e a inocência das palavras

nas minhas mãos de luz.


Deixava de interrogar

a voragem do mar e a escuridão das perguntas

que o meu corpo reclamava.


Bastavas tu.

E os teus olhos tão líquidos

como o azul infinito das marés.





BL

25.05.25






sexta-feira, 23 de maio de 2025

Dizem que é de manhã

 






Dizem que é de manhã

a sala cheia de móveis e de coisas baças

a primavera amadurece


mas tu desces

em direção a outro tempo

a outras histórias.


E eu imagem de um filme mudo

estou sempre e nunca

a voz em entrelinhas


reflexão e reflexo

entre a soleira e a porta


último gesto da luz

a desfazer-se na sombra.





BL

23.05.25






quarta-feira, 21 de maio de 2025

Fazes-me falta na retina do tempo

 








Fazes-me falta na retina do tempo

um tempo de outras horas

de tardes lentas

e suspiros líquidos.


Borboletas de luz traçam órbitas

na nebulosa do pensamento

desenham trilhos de silêncio

nas margens da memória.


Lampejos onde a saudade repousa

o teu nome na ponta dos dedos

ecos antigos na pele do vento

ruídos alucinantes de um monólogo vazio.




BL

21.05.25






terça-feira, 13 de maio de 2025

Evanescência

 




O silêncio pesa.

Um monólogo de zumbidos

sobre a pele.

O tempo dobra-se

e desfaz-se num ponto incerto.


Na memória

os passos que não dei

contornos de futuros

vozes multiplicadas por pretéritos.


Deslizam murmúrios pelo vento

fragmentos de nomes

sobrepostos.


E

no gemido solitário da noite

só a ausência me espera.





BL

13.05.25







domingo, 11 de maio de 2025

O vento murmura uma ausência antiga

 




Desvio o olhar

das mágoas que me consomem

raízes que se agarram à pele

murmúrios embebidos de vazio.



A poeira

cúmplice do esquecimento

envolve-me

desfaz contornos

dissolve vestígios

arrasta memórias

em exílio cego.



O vento murmura uma ausência antiga

um eco a deslizar nos sulcos do corpo

sombras errantes

náufragas

à deriva

na neblina espessa do tempo.






BL

11.05.25






domingo, 4 de maio de 2025

No desacato do desencanto

 




No desacato do desencanto

a árvore veste-se de insubmissão

desafia o vazio

e faz do abismo a sua morada.



Uma fúria silente

arrasta ruínas

sussurra segredos

em dialetos de nuvens.



As horas dançam

com fantasmas de fogo

o tempo joga aos labirintos

o infinito desaba

em espirais vertiginosas.



Peixes deslizam

nos espelhos partidos

e as sombras sorvem

vagarosas

a luz desfeita.



No desacato do desencanto

sou cúmplice de asas

trémulas

de mares que rugem

em sentido inverso.



E é nesse caos

nesse vórtice de absurdos

que o desencanto renasce

ofegante

e feroz.







BL

04.05.25






sábado, 3 de maio de 2025

Sob a engrenagem das marés

 






Pressinto um frio sem refúgio

nesta vertigem das palavras

casa incerta

quando as noites acordam

e atravessam manhãs encandeadas de crepúsculos.

Às vezes feitos de lâminas

lugares de ventanias onde estala a tempestade.


Os dias revolvem-se

em gestos de esquecimento


alinham-se no tempo

sob a engrenagem das marés.


As palavras

aves exiladas

deslizam pelos estilhaços da luz

num voo sem abrigo

até se desfazerem em ervas daninhas

onde a memória se escreve

a sangue e vento.


E entre os rastos do dia

sopram cânticos de cinzas

vozes de um horizonte afundado na garganta das horas.




BL

03.05.25









quinta-feira, 1 de maio de 2025

O toque do tempo

 






Hoje

pedia somente a inquieta

doçura dos pássaros

como quem mendiga ao vento

o refúgio esquivo de uma melodia

a carícia de penas

etérea

deslizando pela bruma espessa da manhã.



Queria que o céu

na sua vastidão

[ de indiferença ]

derramasse pétalas em cascatas

[ fragmentos de lembranças ]

a dançarem 

ao toque imperecível do tempo.



Que um acorde

[ áspero

ou subtil ]

dissolvesse as arestas do silêncio

[ abismo a devorar a alma ]

e fosse bálsamo

para as feridas ocultas

um murmúrio que cura

e desperta

uma esperança que voa

[ incêndio ]

na imensidão.






BL

01.05.25









quarta-feira, 30 de abril de 2025

avassalador o silêncio

 





avassalador o silêncio

rasga o tempo suspende o eco

tudo oculta e tudo revela.





BL

30.04.25

terça-feira, 29 de abril de 2025

O cansaço das pálpebras

 







O cansaço das pálpebras

um mundo fechado em sombras

um suspiro de luz perdido

no labirinto do tempo.





BL

29.04.25






domingo, 27 de abril de 2025

Uma pedra a repousar


 






Existe

nas entranhas do mundo

um rio adormecido

submerso na pele da terra

um murmúrio contido

o silêncio a respirar

na cadência imutável do tempo.



O vento não grita

sussurra

rasga suavemente o véu da inquietação

um olhar atravessado de sombras.



As árvores não dançam

em desespero. Dobram-se

num gesto antigo

acolhem nos seus ramos o peso indecifrável do céu.



E no intervalo entre o caos

e a pausa

no espaço onde o eco abdica de gritar

habita a tranquilidade

[ reflexo opaco no espelho do universo. ]



Há mares que se estendem além do olhar

vastidões de quietude infinita . Abraçam memórias

impronunciáveis

sussurram histórias

sem pressa.



É densa a serenidade do instante

uma pedra a repousar

no centro da alma

a vibrar

na essência do horizonte.






BL

27.04.25





Onde o asfalto se rompe


 





Ferem-me faróis em ruas decadentes

reflexos distorcidos

que sangram nas calçadas

onde o asfalto se rompe

sob o peso de passos perdidos.



Fétidas esquinas putrefactas

abismos a engolirem esperanças desfeitas

murmúrios de histórias

a apodrecerem no silêncio.



Suspiros de moral violada

pairam como vultos invisíveis

entre vestígios de convicções corroídas.



Gasta?



Ou talvez transformada



num ciclo infindável

entre queda e renascimento

onde o ar exala o aroma

acre da decadência



mas ainda hesita

num fluxo perpétuo

onde o esquecimento consome o que sobra.





BL

27.04.25









sábado, 26 de abril de 2025

É aqui que te encontro









É aqui que te encontro.

Num relâmpago surdo

cicatriz do céu que incendeia memórias



ou naquelas flores amarelas

de fogo

centelhas efémeras da eternidade.



A casa era grande

um oceano de ausências

paredes pintadas de solidão



e



entre sombras e silêncio

o meu nome ecoava



quando o pronunciavas

com a tua voz

de tal maneira rouca



que a tarde inteira se derretia



e



sobre a terra

um voo frenético de asas descompassadas

agigantava-se



num encontro feroz com a luz.



Uma dança entre o fogo

e o crepúsculo.






BL

26.04.25








Eu, só

 







Matei memórias de futuros sonhados

enterrei esperanças em terra infértil.



Cravei dardos no horizonte

as mãos trémulas de revolta.



Gritei medos sufocados

lâminas invisíveis do silêncio.



Caminhos apagados pelo tempo

traços desfeitos pela fúria do vento.



Sonhos jazem

esquecidos

cadáveres

sob o véu da noite eterna.



De que serve sonhar

se a madrugada sangra mentiras?



De que serve acordar

quando cada raio de sol queima memórias?



Deixem-me dormir

afundar no negro abismo do repouso.



Deixem-me repousar

nos contornos do silêncio

nos escombros da ilusão.







BL







sexta-feira, 25 de abril de 2025

Queria ter o tempo








 Queria ter o tempo

de ser eu,

para poder ter-me

e me poder dar-te.


Para ser só uma

e não várias,

e tão outras,

em uma só.                             


Queria ser igual

e saber ser,

todos os dias.


Queria recusar-me,

ou aceitar-me.


Não fujo

porque eu quero

e o meu regresso

não está em mim.


Queria ficar,

mas não me pertenço.


Para quê fugir,

se me levo

sempre

comigo?...





BL








quarta-feira, 23 de abril de 2025

Travessia

 







Uma cidade longínqua

já escassa

vai-se despindo por dentro

desfaz-se no amanhecer

semi-dormida.



Respiro a aragem extinta da noite

sou célula

pulmão



artérias que se dissolvem

na penumbra.



Sou o silêncio no horizonte

ecos do tempo em cada esquina

passos dispersos na poeira dos dias

rosto esquecidos em janelas abertas.



Sou destino

cruzo mares.

Levo na pele a marca da travessia

[ o sal colado à memória ]

orla de instante

que nunca se fixa.



Sou vaga

sou sombra



vertigem

e despedida



o regresso do vento

e das palavras não ditas.





BL

23.04.25







terça-feira, 22 de abril de 2025

No voo solitário dos pássaros

 







No reverso do vento

existem sopros de ecos inconfessos

como se o silêncio devorasse o canto dos corvos

e

em cada folha de outono

rasgasse a fenda invisível entre a saudade e o grito.


Caminho por linhas fragmentadas

onde a luz vacila

hesitante

manchando de sombra o rosto do tempo.



No reflexo das águas antigas

renascem vozes que morreram

cartas jamais enviadas



flores a sangrarem cores

que o esquecimento não consome.



O tempo dobra-se sobre si mesmo



e eu

dobrada nele

sou presença e sou distância


sou voo



onde tudo o que sou

se perde

e se refaz.









BL

22.04.25







segunda-feira, 21 de abril de 2025

Tinham o queijo e os moldes

 










Fiapos de luz

trémulos

contidos

trazem-me a infância de filas sem fim

uniformes rígidos

passos contados

espera por tudo

e por nada.



Narizes afiados

sob panos escuros

pendiam

imponentes

sombras inquisidoras.



Sorrisos enviesados lançavam metamorfoses ao vento

escorrendo por corredores estreitos

em cada saída uma lâmina.



Tinham o queijo e os moldes

receitas de ferro e de fogo.

Regiam ritmos inaudíveis

e

corre corre corre gritavam vozes.



Mas eu tropecei.



Fiquei para trás.







BL

21.04.25






domingo, 20 de abril de 2025

Em direção à madrugada

 







Um silêncio noturno habita

formas ainda sem nome

carrega horizontes em dobras de

mel e granito.

Ao fundo

fragmentos do passado

raízes que descansam em sombras de pó.

Entre nuvens e sorrisos

uma janela cansada

e a árvore caça-sonhos a correr

em direção à madrugada.

Não há mar que a aparte do vento

à espera de que o poema se mostre

por dentro.





BL

20.04.25






sábado, 19 de abril de 2025

Nos intervalos das horas

 








Conduzo os meus passos

num curso de horas sem voz

ecos do silêncio

de um tempo que não me pertence

[ que nunca escolhi

e me persegue ]



As sombras arrastam-se

no ventre do vento que murmura a partida

[ refazem-se numa brisa antiga ]

escondo nas palavras as arestas

de uma luz esquecida.



Sobra um fogo que persiste

um brilho discreto à margem dos dias

um lampejo rebelde que ousa ainda respirar.



Os céus pesam de ausência

e a noite desenrola-se sem promessas.



E escrevo. Sílabas de asas trémulas

onde sou inteira

[ por detrás dos dias imóveis ]

tecendo nos intervalos das horas

um mapa de regresso à pele que me envolveu.













BL

19.04.25










sexta-feira, 18 de abril de 2025

O que foi acerto e o que foi deserto


 








Nas minhas memórias me vou encontrando

nos ecos suaves de um verso brando

onde as águas do tempo

em fluxo incerto

revelam o que foi acerto

e o que foi deserto.



Às vezes

sou sombra

sem sentido

vagueio perdida

longe do abrigo

reflexo distorcido de uma crença antiga

que já foi porto

e agora

é névoa amiga.



Deslizo em silêncio

passo sem ruído

entre o sonho e o real

sigo decidida

e na curva do tempo onde tudo se alinha

encontro em mim mesma

a luz que caminha.






BL

18.04.25







terça-feira, 15 de abril de 2025

Batente de porta

 






A solidão que repousa nos olhos

este vazio tão antigo

tão magro

uma linha de água a arrastar-se no tempo.



O tempo

impassível

a moldar o silêncio.

Rotas de dor e de coragem

latentes.



E o passado a sussurrar

vozes persistentes.



Fui sonho

e batente de porta



às vezes punho cerrado

às vezes coração disfarçado.



Avisos amarelos de disrupção da alma

este oceano inquieto

ondas que afagam e ferem

esta dança lenta entre sombras e luzes

a dissolver-se

sem nunca partir.





BL

15.04.25









segunda-feira, 14 de abril de 2025

Sombras de um poeta


 








Todas as casas têm raízes

que não quebram.

Afundam-se

órfãs

na pele do silêncio

como se fossem sombras de um poeta

[desses que sangram versos sobre as pedras

a desenharem asas onde há ruínas

cantando por aqueles que são esquecidos

os que perdem os nomes

e a caligrafia pálida do tempo.





Todas as casas respiram o vazio.

Ecoam

mudas

na noite aberta



enquanto o amor

com olhos fechados

tateia a ausência

e dissolve o fogo nas veias.



Todas as casas escrevem sem mãos.

Gravam

cegas

histórias sobre o vento

por não saberem caminhar sozinhas

por não lembrarem a cor dos passos perdidos

[só a loucura do poeta é memória sobrevivente da vida inteira:

mas de olhos cerrados

quanto é real?






BL

02.04.25










sexta-feira, 11 de abril de 2025

Fora do tempo


 



Os dias desdobram-se entre espirais

de cinza e de luz.

Nas árvores brotam segredos


[fora do tempo]


e os ventos atravessam ecos

de vozes indecifráveis.


Procuro-me num espelho quebrado

entre fragmentos que distorcem memórias

palavras fluem como rios sem destino

que vêm de terras que nunca vi.


A pele do mundo rasga-se em silêncios.

A luz dança

crua

inquieta

no cansaço das estrelas.


O vazio aproxima-se

tranquilo

como um lago a consumir a margem

sem pressa.


Sou um nome sem pátria

presa ao tempo

a desenhar flores nas páginas do amanhã

a procurar raízes onde o chão já se dissolveu

a tentar lembrar aquilo

que nunca esqueci.


Sou um nome que observa os passos da solidão

um nome que pertence ao instante infinito

e aos desertos que florescem

dentro de mim.






BL

11.04.25










sábado, 5 de abril de 2025

O brilho discreto das coisas que passam


 




Entre os ecos perdidos nas paredes

raízes rasgam brechas na pedra

e uma flor encontra o caminho da luz.



Aqui

onde o mundo desacelera

o tempo cruza ramos distantes

e o vento é sílaba insubmissa

a desenhar na pele murmúrios de silêncio.



As árvores revelam histórias antigas

na força nova onde as aves fazem morada

e a voz que busca a palavra

escreve o poema

como quem acende uma luz na penumbra

um último brilho

antes de partir.




BL

05.04.25









sexta-feira, 4 de abril de 2025

Lugares dentro de nós

 





As casas sussurram nomes

que se perderam no vento.

Envelhecem em silêncio

tecem sombras desgrenhadas nos muros

onde hesitou o tempo.



Nas suas raízes dormem histórias

escritas sem mãos

apenas com o peso dos dias

e o eco dos passos que já não regressam.



Nas paredes existem murmúrios

palavras embebidas na cal.



E nos telhados

abre-se

muda

uma janela:

saudade

perene no que sente

intransitiva no que cala.



As casas nunca se despedem.

Apenas esperam.







BL

04.04.25