quinta-feira, 18 de setembro de 2014

Não basta debruar o gesto




De repente, um olhar enviesado
a abrir a noite. Desarrumavas sorrisos
sobre um muro clandestino
a olhar à volta
a sacudir capítulos desconexos
a ordenar a anarquia dos pensamentos


[ com tantos nomes dentro ]

Precisavas de ocupar todos os espaços da alma
por detrás de um rosto
que não é o teu. Porque o teu
é esse espaço que habitas
quando pronuncias palavras
que te são indiferentes à voz.


Opacas.
Opacas as sílabas gastas
que inutilmente emprestas
quando os teus olhos bocejantes mastigam cansaço
e esquecimento.


Não basta debruar o gesto.

[ a solidão não basta ]

No mosto
ainda frágil
de um outono indeciso
seria fácil


[ e preciso ]

deixar viver um sorriso primaveril.

Que nascesse de um quase nada
de um momento de água
ou de uma nesga de céu


o meu

a recriar o teu.

BL
25.09.13



2 comentários:

  1. Cada olhar a abrir a noite. Cada gesto que faz renascer o amor. É o que basta para habitar a alma.
    Mais um belo poema, amiga.
    Beijo.

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