terça-feira, 14 de janeiro de 2014

A harmonia das sombras



Caminho por entre palavras
feitas de pormenores
pontas soltas de uma espécie
de narrativa desconjuntada
a derramar-se no ar frio
e húmido da noite.

A memória é um céu
a escurecer.
Isolada no nevoeiro das recordações
move-se
e retrocede
uma luz trémula e minúscula
concebida como semente
de esperança
bálsamo expectante
no meio da escuridão.

Releio o poema e sinto-lhe
a pele desabitada
como uma casa abandonada
no ocaso do tempo.

Não há espaços para o verbo. Os dedos
despenteiam sílabas arranhadas
pelo vento
relembram esquecimentos iludidos
de eternidade.

Como se a vida fosse
um fogo lento
por onde sobe docilmente
a harmonia das sombras.

BL

8 comentários:

  1. Palavras vivas, corporizadas a cada vez que as pensamos, usamos...

    Belíssimo poema!

    Beijinhos Marianos! :)

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  2. A vida pode ser um fósforo aceso
    em vagarosos instantes
    quase eternos

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  3. Siga a harmonia das sobras, talvez encontre a luz!

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  4. Vim até cá, já com imensa saudade e gostei muito...bj

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  5. Lindo poema, pra mim revela o quanto as sombras nos inspiram, como a memória funciona de esquecimento a releitura do que absorvemos no mundo, sem que a nossa intenção esteja sempre presente, mas que parece sim existir uma harmonia no mover e retroceder de sombra e luz. Abraço, Brígida.

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  6. Não há sombra sem luz, minha querida! Belíssimo poema que me deixou a reflectir, sobre esse fogo lento, em que a vida se consome...

    Beijinho e boa semana!!!

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  7. Às vezes deixamo-nos levar pela fragilidade para de seguida nos reerguermos mais fortes.

    Lindo poema!

    Beijinhos Marianos! :)

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