segunda-feira, 31 de março de 2025

Improváveis horizontes







O tempo é pausa

e a sombra arranha-te os passos

que balançam entre o já

e o nunca.



Na ausência

desfias os nós invisíveis do destino.



O eco lateja na fissura da espera

lâmina a desafiar o verbo.



Os dias pesam

chumbo ao amanhecer

e o medo a engolir a vastidão da noite.



Sobram memórias

em cofres de pele esquecida.

Erguem-se asas quebradas

contra um céu de negrume e incertezas.



Porque a dor é prado

é rio

é queda

_ melodia do silêncio a cantar na distância

um voo de corvo no caos das ausências

bordando na muralha improváveis horizontes.







BL

31.03.25










quinta-feira, 20 de março de 2025

Um tempo a moldar o rio


 


Fluem os dias entre margens invisíveis

artesãs de memórias

raízes de um tempo a moldar o rio.


Dança a eternidade no silêncio do horizonte

e

em instantes frágeis

recolhemos sílabas

como folhas caídas

a aceitarem o abraço frio da corrente.


As águas moldam as passadas da rocha

enquanto a corrente carrega sonhos sem corpo

o céu chora sobre a terra

e o reflexo do mundo

é peso

e é tristeza

na leveza de existir.





BL

20.03.25







quarta-feira, 19 de março de 2025

Ecos de ti


 




No íntimo segredo da palavra

hei de erguer um templo

de sílabas líquidas

onde ecos de ti desaguam em marés

eternas.



Caminharei

descalça

pelas veias da noite

semearei constelações

nas frestas do silêncio

e abraçarei o lume que deixaste no ar.



Porque tu és o mapa

e a bússola

o ciclo das glicínias a cada primavera

e o fôlego

que move os ventos do poema.   



BL

19.03.25









domingo, 9 de março de 2025

A liquidez da noite

 








As horas amargas aguardam
as árvores de pé

ou os livros que nos 
ensinem letras 
pacientes.

A cumplicidade da terra espalha 
a dor
a chuva risca rotas
de liberdade
o silêncio entrelaça histórias
de sonhos 
e saudade.

Vemos a lentidão da vida
a alastrar
nas linhas das mãos.

As horas deslizam 
com a mesma sapiência
de quem conhece o destino.

É noite.
Entranha-se a liquidez do poema
como folhas na corrente
das águas.

Apenas se ergue
o sussurro dos deuses
para quem os quiser
ouvir.



BL
09.03.25