terça-feira, 26 de novembro de 2024

Prendo a noite nos bolsos

 






Não digo de um mar vazio

onde se cruza o tempo frio das artérias,

prendo nos bolsos a noite,

acendo o sangue quente nos meus dedos

soltos em zumbidos

embalados de sentidos 

e de vitórias.

Disperso no vento o cântico agitado,

dor, cobardia,

amargura do cansaço.

Valseio um papagaio rubro

suspenso de andorinhas renovadas,

ébria de azul,

calmo e silente no peito um voo leve,

um trilho de ar que o destino não percebe.   




BL

02.04.2010


domingo, 17 de novembro de 2024

Os ramos que me crescem longe

 




É tempo de romper o barulho ensurdecedor das pedras

e ser fio de água clara

a correr no silêncio

que se desprende das nuvens;


saber ser a cor do mar

a rimar com o perfume

da madrugada;


semear no vento a voz das marés

a acordar cá dentro

a loucura dos pássaros adormecidos

a calar os uivos feridos do deserto;


escrever horizontes no interior da noite

o poema

a inventar paisagens

em dias de palavras

impossíveis.


Para que o pôr do sol

seja uma manhã inteira

e os ramos que me nasceram

de entranhas de linho

e de fogo

e me crescem longe

floresçam

terra e semente

nos girassóis que plantei

no chão que me habita a casa.





BL

06.04.12








quarta-feira, 6 de novembro de 2024

Moradas do vento

 




E a pele a respirar reflexos

desse lugar que ainda existe. Como um relâmpago.

Flor breve

onde sonhos se imolaram.


Refazemo-nos em moradas

migratórias do vento

ou num teto de sol.


Reinventamo-nos num voo

de ave embriagada


corporizamos no verbo

um sentir preservado em copas

de memórias.


Somos histórias

de incêndios e de mar.

Habitamos nomes e poemas.

Transportamos nas veias rostos

e olhares


e sem hesitação doamo-los

a um tempo em liberdade

resguardado


na luz coada que ainda

nos pertence.





BL

06.11.24