quinta-feira, 30 de maio de 2024

Imagem anónima


 


Deitou-se sobre a terra
era a última fila do estio
[ tinham anoitecido os últimos risos de terra fértil ]
adormeceu a insónia sobre a cama de relva.

Trazia sob as pálpebras páginas indecisas
fotografias do vento e
frutos de verão a contornarem lábios
perdidos entre a ramagem.

A seu lado a pulsação da
pele 
voo de estrelas
escárnio da ilusão
[ amor derradeiro amor primeiro? ]

Leve e frágil a libertação da memória
breve agitação do tempo
fogo-fátuo sem geografia.



BL
30.05.24














quarta-feira, 29 de maio de 2024

"África minha"

 











Meu chão é terra vermelha,

eu sou ébano e bonita.

Dançam sombras, ao sol ardente,

abraços da terra quente,

minha savana infinita.



Se, ao invés da cor,

prevalecesse o amor,

Pai nosso

que estais nos céus,

se, ao menos, eu pudesse

ajudar todos os meus.



Meu cabelo é negro e livre,

cresce, bravio, como o vento.

Coberto de flores, cores, ornamentos,

refletindo a luz dourada

e

em traços finos,

um perfil de vida ritmada

ou o silêncio do tempo.



Pai nosso,

que estais nos céus,

Tu e eu somos iguais.

No chão vermelho, o sangue,

da caminhada exangue,

desde o passado ao presente,

se não nos aceitam os demais.



Meus olhos fechados fitam a lonjura,

atravessam a cintilante vastidão.

Tão largos nesta planura,

pinto sonhos,

histórias brilhantes,

na tela do meu coração.







BL

28.05.24
















sexta-feira, 3 de maio de 2024

Labirintos da memória


 



Às vezes oiço vozes
onde iludo um aconchego
uma palavra que me é impulso.

Nas paredes explodem rostos
a atravessarem os lugares de ti
[ e de mim ]

ao longe.

Ressoa-me a limpidez da
tua voz

no azul transparente dos
teus olhos.

Sussurravas-me na pele o
futuro dos verbos.

Esculpíamos na espuma das
ondas
os frutos de um verão que ecoa

no tempo
na vertigem implacável dos relógios
onde os corpos se desfizeram
em sombras.

Ainda me sento na espuma
das ondas

e viajo pelas imagens que percorrem
os labirintos da memória.

E escrevo as noites antigas
em que já não existo.

Em que tudo morreu
dentro dos seus nomes.






BL
03.05.24