domingo, 29 de dezembro de 2024

A sede

 









Repetidamente inscreve-se

a sílaba num silêncio escrito

a dois.



Enredam-se as vírgulas

sufocam

suprimem-se

iludindo chamas de um tempo

a adormecer sobre os ombros.



Insinuam-se sobressaltos

e há medos que gemem

fantasmas de uma força maior

espalhando palavras contra os muros.



Procura-se arranhar a verdade.

Deserto definitivo de uma sede sem nome.









BL

29.12.24










segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Sementes de dezembro

 





Igual a tantos dias em que passas

alheio ao nevoeiro

ao grito do chão que piso



sempre maio dentro de ti

o café da esquina já perdeu o nome

e a luz mortiça a vir lá de dentro



e a minha cabeça a ser a luz que vem lá de dentro

as vozes a esvoaçarem

a serem só uma

ou duas

todas as certezas em que eu me dividia.



Eu só queria um destino com o sol a pino

agarrei dezembro numa lareira de

cinzas apagadas



não estou a chorar

só queria ter algumas sementes guardadas

um punhado de terra

e um sol a pino

para as germinar.





BL

02.12.24