domingo, 10 de janeiro de 2021

Já não sei se há domingo

 


Já tive uma rua inteira

aberta

cheia da luz de domingo

e uma porta deslumbrada

por onde essa luz entrava

completa.


Tinha também um rio

que passava ao pé da porta

de águas mansas e frescas

onde a vida se espelhava

e o meu corpo suspirava

pelo brilho de domingo

das flores

e das borboletas.


E nos meus olhos de mar

sorria a pureza do mundo

cabia um céu de gaivotas


[até deus tinha um lugar]


dentro dos meus olhos de mar

ao domingo.


Já não tenho nada

já não quero nada

já não sei o meu lugar

já não sei se há domingo

nem mesmo se quero o sol

a nascer detrás da noite

a ofuscar o luar

em cada madrugada.



BL

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