domingo, 2 de novembro de 2025

Lugar inconfesso

 




Há um lugar que não se nomeia
feito de sal e silêncio
onde a noite se deita no corpo
como um animal ferido.

Ali os dias não passam
eles rasgam
bordam agulhas na pele da água
à espera de um vento que saiba rezar.

Escrevo com os ossos
com o lume que resta nos dedos
com a sombra que a memória
projeta sobre o chão da ausência.

Tu és o verbo que não se conjuga
a raiz que não dorme
o altar onde os sonhos
se oferecem sem retorno.

Às vezes respiro como quem arde
como quem acende a noite
com um sopro de faíscas
vindas de um beijo antigo.

E há uma força que me puxa
para longe do abismo
mas deixa em mim
o eco do precipício.

Faço pactos com o escuro
juro com sangue
a flor breve do amanhecer
enquanto o dia me obriga a existir.

Hoje desabituei o teu nome
lavei as palavras no esquecimento
e convoquei o sono
para apagar o lugar onde resistes.





BL

02.11.25













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