Dias assim e assim
Pronunciaste-te
distância. Estabeleceste uma linha divisória irreversível. E eu
nem sempre sei a que lado pertenço. Lembro-me daquelas plataformas
de bom comportamento, de que ouvi falar em sessões de catequese.
Numa idade em que ainda tinha uns olhos arregalados para o mundo. O
céu, o limbo e o inferno. Não me parece que em momento algum haja
espaço para mim num recanto do céu. Pelo que ouvi dizer. Nesses
tempos de outrora e em tempos bem mais recentes. Estou mais próxima
do inferno. Pequei por palavras, atos e omissões. Pelo que fiz. Pelo que
não fiz. Às vezes, pelo próprio facto de existir. Pelo que _ te _
ouvi dizer. Ignorei o sonho. Distorci a realidade. Passei ao lado das
minhas atribuições. Desvalorizei sinais. E este é um dos meus
pecados mais graves. Que me atira para o inferno de quase todos os
meus dias. Dias de fogo. E de água. Em dias de limbo. É quando se
sucedem os pontos de interrogação. É quando os braços pendem ao
longo do corpo. É quando os olhos se apertam e se fazem pequeninos,
pequeninos e não conseguem avistar terra para cultivar. Mas existe
uma linha comum a todos os meus dias. Terminam todos eles numa queda
desamparada para a linha vazia do horizonte.
BL
Sem comentários:
Enviar um comentário