segura para ti o tempo
dizias
e na parede
desenhavas janelas de sombras
guardiãs do teu olhar limpo
e dos sonhos mais puros
memórias de vozes
histórias de silêncios.
BL
13.09.23
"A minha resistência / à morte do pensamento." Fiama Hasse Pais Brandão
segura para ti o tempo
dizias
e na parede
desenhavas janelas de sombras
guardiãs do teu olhar limpo
e dos sonhos mais puros
memórias de vozes
histórias de silêncios.
BL
13.09.23
Queriam crescer
as flores
entre as pedras
e a terra ressequida.
O céu era azul
o olhar também.
E para lá das pedras
para além da terra-túmulo
caminhava o medo
a procurar abrigo
num olhar azul
perdido entre escombros
e céu sem horizonte.
Um vulto
nítido
no centro da mira.
E um ponto
vermelho
à espera.
BL
09.09.23
Nada me trará as horas
de ambrósia e mel
soltas nas margens
de um rio sem tempo
labirintos de pele
em que perdida de mim
o fogo me prendia
e eu existia.
Uma estrela cadente rasga-me a memória
e acende-me a dor do fogo das águas.
Na margem que é minha
procuro um abrigo
no espanto esquecido
do rio que passa.
Na margem que é tua, a alvura da noite
derrama luares, perfumes, sabores.
Nada me trará as margens
de um tempo sem horas
nas dunas desertas
da margem que é certa.
Ensaio um sorriso e a margem que é certa
envolve-me e devolve-me
o sorriso perfeito
e é com ele que te digo
que esta noite o meu sorriso
irá dormir contigo.
BL
17.05.10
Há as palavras cor-de-musgo
que irrompem de súbito
na berma do caminho. Libertam aromas
selvagens
eixos frágeis
quase trevas
que se prendem às escadas do tempo.
Ressalvo a hesitação da cor
regresso ao sol interior
que molda as pontes à poesia
para deambular pelos cristais da infância
saldar as contas com os ecos
que hibernam
sem cobranças
na submersa claridade das lembranças.
BL
19.05.10
Já não sei os dias
de cores claras
e promessas lisas
dispersas coincidências do destino
desenhou-se um atropelo
espasmos latentes
submissas aparências
ziguezagues de mudas ventanias indecisas
na janela
a luz transfigurada transformou em pó
o meu castelo
que nos meus olhos
largos
subia em letras soltas
e te sabia em mim
em silêncio diz-me o tempo
que o tempo envelheceu
promessa desabitada
espaço vazio
saudade
feita de nada.
BL
19.10.10
Nas minhas memórias me vou procurando
ou coloco a questão num verso brando,
nas águas que correm do tempo passado
aquilo que deu certo e o que fiz errado.
Certos dias, nada faz sentido
ando por aí, mas não estou comigo
distorcida a crença que me foi abrigo.
Deslizo em silêncio, passo de mansinho
do sonho ao real, sigo o meu caminho.
BL
18.08.23
Movia-se sem mapa de viagem
sem bússola
ou residência.
Engolia o grito do vento
a rasar os barcos
que partiam.
Às vezes escondia
no olhar
aves hesitantes
ou o leito vagaroso
de águas
a recolherem memórias.
Sentia a pele
permeável a manhãs
de cinza
e aninhava no peito
a neblina
da noite escura.
Nos sonhos antigos
ecos de silêncios limpos
os pés em sangue
e a sombra do tempo
na estrada
parada.
BL
03.08.23