quarta-feira, 29 de janeiro de 2025

As letras atravessam o fim da página

 






Abriu-se o barro
à mulher vestida de negro.
E a luz fluiu 
na sua direção.

( Con ) fundiam-se 
o barro e o céu
delineavam-se asas em lâminas de fogo.

Enganava-se a morte
escrevendo em cinzas
poemas de amor com sabor
a pássaros caídos da voz.

Fechou-se o tempo
as letras atravessam o fim da página.

Queimam lentamente
as palavras
na síntese dolorosa de todas as coisas.

Cada vez mais perto
da ilusão dos lábios.






BL
28.01.25







terça-feira, 28 de janeiro de 2025

A pele húmida da solidão

 




De novo a acidez 
da pedra assoma
à superfície das águas.

Adormecera
na contemplação da cor
de um céu a escoar raízes

enquanto os ossos
roídos de dor
escondiam a explosão das veias
a correrem
no sentido de pedaços e sons
de um fundo azul do tempo.

Existe agora
uma renúncia anunciada

extingue-se no olhar
a porta onde
a vida atravessa a pele húmida da solidão.



BL
28.01.25










sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

A lucidez do azul

 




Falaste-me do cansaço da pedra
das escadas de neblina magoada
e triste
da árvore a tombar
lentamente em janelas
de solidão.

Preciso lembrar-te
a sede da pele
a renovação dos pássaros
um fio de luz
em nuvens suspensas da manhã.

Não rasgues os alinhavos
da memória
não apagues os diálogos
do tempo.

Há de um voo pousar no poema
e acertar a lucidez do azul
sobre a cegueira do silêncio.



BL

10.01.25
















quarta-feira, 8 de janeiro de 2025

Adília Lopes

 




" A arte é um modo de lidar com a ausência. E por isso é tão preciosa e tão perigosa. Nunca é a alegria da presença."


 ADÍLIA LOPES (1960-2024)

terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Fragmentos de silêncio

 







São agora ramos segmentados
galhos secos atravessados de penumbra.

Olho-os e vejo pretéritos
ainda formas esguias
sob(re) os verdes
[ que permanecem ]
cobertos de metáforas.

Penso no que peço
despeço-me do que pediria.

Assomam pétalas por
entre arremessos de inverno
são quase nenhumas
as aves que me aquecem.

A geada queima o verso
desintegra o corpo do poema.

Talvez já não saiba
o lugar das palavras

e todas as coisas sejam murmúrios
a empurrarem as mãos
para o olhar fragmentado do silêncio.

BL
07.01.25










Movimento circular da palavra

 







É circular e fluido
o movimento da palavra que
floresce nas suas mãos.

Desliza o pensamento
no olhar profundo
sobre as teclas

não há nódoa
na folha branca
inteligente
delicada
pertinente.

Sombra e luz entrelaçadas
um rio correndo
em rimas
às vezes alternadas.

Atravessa o deserto
traça o perfil de um destino incerto
alcança uma seara a descoberto.

Nas rugas do tempo
histórias gravadas
mapeia na planície
as águas estagnadas.


BL
06.01.25






segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Os berlindes da solidão

 







Os bolsos cheios de berlindes

às cores

de palavras

e de dores.



Não utilizava a palavra

em zonas de argumentação.

Cheio de silêncios



baixava o olhar

a procurar um grão

de culpa alheia



ou de solidão

para sacudir das pernas das calças

ou das solas dos sapatos.



Sem traçar planos

saía para captar um plano



que guardaria

na gaveta do esquecimento.



Entrelaçava o tempo

em mágoas

e o que não teria de fazer.



E os berlindes às cores

à beira do abismo.


No vidro da mesa o reflexo da queda

a fuga.



Sem crença de salvação

a queda ficou à espera.



BL

05.01.25