quinta-feira, 14 de setembro de 2023

Janelas de sombras

 







segura para ti o tempo

dizias


e na parede

desenhavas janelas de sombras


guardiãs do teu olhar limpo

e dos sonhos mais puros


memórias de vozes

histórias de silêncios.



BL

13.09.23












sábado, 9 de setembro de 2023

Um vulto

 









Queriam crescer

as flores

entre as pedras

e a terra ressequida.


O céu era azul

o olhar também.


E para lá das pedras

para além da terra-túmulo


caminhava o medo

a procurar abrigo


num olhar azul

perdido entre escombros

e céu sem horizonte.


Um vulto

nítido

no centro da mira.


E um ponto

vermelho

à espera.


BL

09.09.23












terça-feira, 29 de agosto de 2023

Margens

 




Nada me trará as horas

de ambrósia e mel

soltas nas margens

de um rio sem tempo

labirintos de pele     

em que perdida de mim

o fogo me prendia

e eu existia.


Uma estrela cadente rasga-me a memória 

e acende-me a dor do fogo das águas.


Na margem que é minha

procuro um abrigo

no espanto esquecido

do rio que passa.


Na margem que é tua, a alvura da noite

derrama luares, perfumes, sabores.


Nada me trará as margens

de um tempo sem horas

nas dunas desertas

da margem que é certa.


Ensaio um sorriso e a margem que é certa

envolve-me e devolve-me

o sorriso perfeito

e é com ele que te digo

que esta noite o meu sorriso

irá dormir contigo.



BL

17.05.10








Palavras cor-de-musgo

 





Há as palavras cor-de-musgo

que irrompem de súbito

na berma do caminho. Libertam aromas

selvagens

eixos frágeis

quase trevas

que se prendem às escadas do tempo.


Ressalvo a hesitação da cor

regresso ao sol interior

que molda as pontes à poesia

para deambular pelos cristais da infância

saldar as contas com os ecos

que hibernam

sem cobranças

na submersa claridade das lembranças.





BL

19.05.10












quinta-feira, 24 de agosto de 2023

De que é feito o tempo?

 






Já não sei os dias   

de cores claras

e promessas lisas

dispersas coincidências do destino


desenhou-se um atropelo

espasmos latentes

submissas aparências

ziguezagues de mudas ventanias indecisas


na janela

a luz transfigurada transformou em pó

o meu castelo

que nos meus olhos

largos

subia em letras soltas

e te sabia em mim


em silêncio diz-me o tempo

que o tempo envelheceu

promessa desabitada

espaço vazio

saudade

feita de nada.





BL

19.10.10








sábado, 19 de agosto de 2023

Sigo o meu caminho

 




Nas minhas memórias me vou procurando

ou coloco a questão num verso brando,

nas águas que correm do tempo passado

aquilo que deu certo e o que fiz errado.


Certos dias, nada faz sentido

ando por aí, mas não estou comigo

distorcida a crença que me foi abrigo.


Deslizo em silêncio, passo de mansinho

do sonho ao real, sigo o meu caminho.



BL

18.08.23






sexta-feira, 4 de agosto de 2023

Entre.tanto



 



Movia-se sem mapa de viagem

sem bússola

ou residência.


Engolia o grito do vento

a rasar os barcos

que partiam.


Às vezes escondia

no olhar

aves hesitantes


ou o leito vagaroso

de águas

a recolherem memórias.


Sentia a pele

permeável a manhãs

de cinza


e aninhava no peito

a neblina

da noite escura.


Nos sonhos antigos

ecos de silêncios limpos

os pés em sangue


e a sombra do tempo

na estrada

parada.


BL

03.08.23