terça-feira, 28 de março de 2023

A pedra







Naquele lugar onde os

olhares se reencontram e o Universo

nos preenche. Somos a chama

do sagrado e suspendemos

a voz

porque tudo em nós

é silêncio.

Tomam-nos ecos da

raiz do tempo

e ousamos sentir

[ numa carícia leve

delicada ]

a hegemonia da pedra

e dos vultos que se erguem

a seu lado.


Naquele lugar soletramos

o tempo

e a crença de que a luz

que nos atravessa

nos é sismo

e redenção.





BL

28.03.23











sexta-feira, 24 de março de 2023

O jogo

 


Toda a tarde pensei

em ti

enquanto me estendiam sobre

a mesa um turbilhão

de abstrações.


Os zumbidos gritavam salas vazias

e não cheguei a perceber se

eram genuínas as intenções

ou se apenas jogávamos

entre névoas

perdidas

ou arrependidas.


E eu

trepadeira de ausências

o pensamento a passear

coração adentro.


E eu

inteira

fui toda uma tarde 

uma parte de ti.


BL

23.03.23








terça-feira, 21 de março de 2023

O espelho

 



De súbito

o cântico das águas de maio

no anoitecer dos mitos

a linguagem dos pássaros

nos cabelos das searas

a voz dos barcos

a ressuscitar o gesto;


o ritual do sol

a reconstruir nas veias

os lugares onde a luz

abre os silêncios

e sopra das folhas

o vazio do ar.


Mas no espelho há ainda pedras

soltas no meu rosto

rugas de asfalto

a correr contra o vento

à procura do tempo.




BL
07.05.11











terça-feira, 14 de março de 2023

Árvore e verbo

 





Saber-te asa de fogo no

pulsar da manhã.

A esperança a preencher as sombras que

povoam a insónia

o avesso de todas as tormentas.

Ainda vivo numa viagem de

aguarelas azuis

a alma desarrumada

colada a um vento arrastado

aves guardadas em horas de silêncio.

Ainda me traz o teu nome um destino errante

um chão errátil

a vertigem de memórias

insistentes

que  me foram a árvore

e o verbo.


Saber-te asa de fogo

no pulsar

da manhã.



BL

14.03.23







segunda-feira, 6 de março de 2023

Escuridão

 







Ah, por que viverias sem

esse teu sonho branco?


Caminhas perfilado

sobre a corda bamba


vendaram-te os olhos

e

sob a anestesia


atiras às cegas sobre a morte em fuga.


É negro o branco

que te rodeia


não olhas

porque já perdeste o olhar.


Ah, por que viverias sem

esse teu sonho branco?


Porque tingiram de vermelho

o teu sonho branco


nesse não-lugar.


BL

05.03.23