domingo, 22 de setembro de 2019

Palavras (es)partilhadas



As palavras sobrepõem-se
sem fio
nem finalidade
entretêm um tempo sem fim
e afinal é um fio de missangas
a ternura das cores
os hábeis dedinhos
que emprestam ao tempo a tranquilidade
e o significado deste tempo a prazo.



Des.aconchego

Chove muito por aqui
as janelas estão fechadas
os vidros embaciados encobrem o odor do verão
em parte incerta
junto a mim concentram-se os risos e os choros
e o íntimo silêncio queima
neste caminho que não é o meu.

B.
22.09.19

quarta-feira, 18 de setembro de 2019

Eu tinha palavras no interior dos meus olhos

Eu tinha palavras
no interior dos meus olhos mas
caminhava para dentro de mim
porque cegava-me
o enviesado da tua voz e as sombras
a caírem das tuas mãos sem lugar.

BL
17.09.19

segunda-feira, 16 de setembro de 2019

"Reach out for me..."



Fecham-se as portas do templo

Palavras de corpo inteiro
ungidas de seivas intermitentes
renascidas dos silêncios do tempo.

Sob o peso das pálpebras
o encontro das memórias
claridades rendidas à nudez da árvore

adormecidas na sombra do tempo que me leva

[ o tempo que é ]

além do que sou.

Fecham-se as portas do templo.

Retenho nos olhos o canto fugaz dos girassóis
procuro nos ramos das nuvens
a quietude dos dedos

mas nada mais me toma
do que um sopro de sal.

B.

segunda-feira, 9 de setembro de 2019

A cor breve do sol

Existe uma luz presa à margem

a oscilar na inclinação do vento.
Desvenda os sentimentos da pedra ou reveste
a pele da serenidade de um lugar
na tarde que se faz
devagar.

A voz do barqueiro permanece inaudível
no regresso à canção dos búzios.

Hoje
só hoje
a luz e uma rosa
e a paleta de sílabas antigas.

Sei da brevidade deste silêncio
festim dos pássaros que ainda existem
como albergue da lua mais clara e da música do sentir.

Hoje
só hoje
a luz e uma rosa
e os reflexos de um verão colado à minha pele.

BL
09.09.19


quinta-feira, 5 de setembro de 2019

Ainda há folhas verdes sob o anunciar da sombra



A voz fragmentada pela inquietação
do silêncio.
Temporais adormecidos
à distância de um ponto de fuga
na convergência da luz.
O corpo moído
enrolado sobre a margem de um rio
alimentado pelos reflexos vermelhos do tempo.

O tempo que passou através de nomes
e de gestos cobertos de cicatrizes.
Não existem palavras ou lábios que as consigam
dissolver.

Espera então pelo olhar saltitante dos pássaros
quando o tempo acordar com a explosão da folhagem verde.

BL
25.08.19