sábado, 29 de junho de 2019

A colina era verde

Subia a colina
e corria a procurar-se
entre os verdes das ervas.

Entregava-se
ao silêncio das nuvens
e galopava cavalos de sonhos
a entrarem para dentro dos ecrãs.

As horas rolavam
celebravam risos luminosos
repartindo o esplendor da tarde
entre brancuras intermináveis e inocentes.

Descia a colina sob o peso de um céu de chumbo e indiferença
percebendo o pretérito do tempo
sem certezas dos nomes ou
lugares para onde ia.

Descia a colina verde sem compreender
o silêncio das
nuvens.


BL

sexta-feira, 28 de junho de 2019

_ a estrada _ dizias



Movias o tempo enquanto
desenhavas sombras na parede.
_ a estrada _ dizias
e viravas o rosto para a luz em que seguiam
os caminhos em chamamento.
Lá ao fundo havia pássaros que te bebiam a alma
mas tu levavas nos olhos o cintilar de um estio
na senda das certezas.
E eu prosseguia lentamente

[ os ombros carregados de ruídos ]

sob os telhados de ontem e amanhã
sem entender os lugares
onde os teus silêncios adormeciam
nem a cidade que verdadeiramente te habitava.


BL

terça-feira, 4 de junho de 2019

Ser lugar

Escondemos as vozes
num jogo de sombras a desdizerem
a solidão dos dias. Acumulamos enganos
e silêncios instalados

damos a volta à saudade
como se mergulhássemos a vida inteira
no olhar do entardecer.

Vivemos num casulo de pequenos
nadas
os ombros a tocarem o chão
enquanto dobramos a dor para dentro da pele.

E enquanto o lápis nos guia os passos
entre ruídos noturnos

há um ponto que nos chama
à procura de um lugar.

BL

segunda-feira, 3 de junho de 2019

É ainda de dia

Vá, rápido, deixa cair
essa história no chão.
Lê os paradoxos que me doem na cabeça,
é ainda de dia, junta-te a mim,
vamos abrigar-nos na brisa
e deixar o tempo parar.

Vá, rápido, não quero chorar.
A luz é tardia,
temos segredos a procurar,
a nossa música para misturar.

Há lagos a construir,
há pontes para atravessar.

Vá, rápido.
Não quero chorar. Não quero chorar.

BL
03.06.19