sexta-feira, 28 de agosto de 2020

Na lucidez dos ciclos





Podemos romper paredes
trazer para dentro de casa
um rosto pele de musgo
sob a folhagem de um tempo ambíguo.

Esfregamos as pálpebras
a diluir nas nuvens
o que, na lucidez dos ciclos, poderia ter sido.

Não sei se nas paredes
se desdobram os ecos
ou ponteiros de relógios invisíveis.

As árvores dançam ao fundo da noite
e nem o doce brilho de dezembro
confunde a solidão que as habita.

BL

terça-feira, 11 de agosto de 2020

Na breve floração dos olhos






Caminho por ruas incertas
dúvidas esparsas
quando na voz dorida dos rios
vejo aproximar-se
a cadente aceitação dos naufrágios.


Fragmento o tempo entre palavras
inábeis
e com elas desenho a diáspora das lágrimas
que me cabem.


Teimosamente espero as primeiras espigas
que pelas íntimas estações hão de chegar


[ na breve floração dos olhos
ou no voo transitório de uma ilusão ]


e em troca me pedem
a indizível harmonia de um silêncio.



BL