quarta-feira, 29 de julho de 2020

De neve e silêncio





Caminhavas para a luz indefinível
quando o arvoredo já era de neve e silêncio.
Ressoavam os gestos inúteis
e irreparáveis
e a chuva no teu rosto dizia todas
as palavras e todas as lembranças que tinhas
deixado desamparadas atrás de nós.


BL
29.07.20

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Os rostos da espera





A luz não jorra
sobre os rostos da espera.
Verte-se em desequilíbrio para

estátuas suplicantes de movimentos nítidos
em espelhos de vozes alegres
e claras.

Que entrassem a cor e a água
e a solidão se dissipasse
nos corpos angulares e taciturnos.


BL – 10.07.20

terça-feira, 7 de julho de 2020

Dentro dos meus olhos, o teu reflexo


Hei de encontrar-te um dia
como se tivesse fugido o tempo
e dentro dos meus olhos o teu reflexo
e um mundo de mil luas
na plenitude em que, não te encontrando,
te invento.

E nesse dia
os pássaros acender-nos-ão o sol
e um chão de hortelã será a madrugada,
a tua,
e ao pôr-do-sol dos barcos
escreverei naquela nuvem duas lágrimas,
as minhas,
e nelas guardarei a folha em branco
do meu crepúsculo.


BL


sexta-feira, 3 de julho de 2020

O teu mar



Amanheces instante.
Acorde de piano em ampla harmonia
com rastos de navios
sem horas de chuva às portas da noite.

Constróis pontes coloridas e atravessas o mundo.
O teu mundo
aquela dor extensa a resistir dentro de ti.
O teu mar
que parte e regressa a cumprir o ciclo
de forma plena
parte integrante do teu lugar a cada anoitecer.

O teu lugar.
Palavra lenta e transparente
cântico de embalar onde o coração repousa
e a movimentação da luz acontece.

BL - 03.07.20



Yucca

BL

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Teias de palavras sem-abrigo




Nunca as horas foram tão breves
nunca os dias se fecharam tão cedo
contornos da noite
chuva baça
sem regresso.

As linhas do tempo sustidas
pelo desalinhamento dos ciclos
e as cores que incendeiam a tela
destroços de rostos
ao longo do silêncio do verso.

As mãos erguem as memórias
retêm o rumor do tempo. Prolongo-me
pelas copas das árvores
sopro apagado das pedras
e de aves caídas
arremesso.

Nunca os dias foram tão breves
e as horas compassos distorcidos
teias de palavras sem-abrigo
retrocesso.