segunda-feira, 24 de maio de 2021

Ardem silêncios

 


Pouco a pouco apercebes-te

de que apenas sustentas o olhar num calendário

inexato e impalpável.


Refletes na calçada passos solitários

que tingem a tarde de um vento inquieto

e semeias promessas audazes


como sonhos que adormecem sob o peso

do esquecimento

ao fim do dia.


Nos teus olhos dispersos vivem palavras

que gemem os teus silêncios insondáveis ou o sinuoso cansaço

da vida. Talvez nunca desvendem a verdade

das partículas que tu és.

Talvez sejam verbos redentores que esvoaçam na praça

a gritarem sombras a quem passa.


Antes de regressarem ao coração da noite.


24.05.21

BL



sexta-feira, 14 de maio de 2021

Algures entre um voo desamparado



 


Inscrevo os olhos no círculo do tempo

e amaino os ventos

que confundem as palavras.


Desenho auroras de risos claros

como rotas de mel 

sobre as fendas que crescem na verdade dos rostos.


Ouso encher de borboletas incertas

os bolsos vazios do poema


algures entre um  voo desamparado

e o coração fértil

que me prende à terra.


Mas são de sal e silêncio os barcos

que me estendem as mãos.


No outono do mar sou a sede melancólica

e indizível 

um ocaso entediado


no movimento anónimo do corpo.


Corpo anoitecido de sombras e naufrágios

canto de esperas desajeitadas

no dorso noturno das águas plácidas

que me navegam.


BL