sexta-feira, 14 de maio de 2021

Algures entre um voo desamparado



 


Inscrevo os olhos no círculo do tempo

e amaino os ventos

que confundem as palavras.


Desenho auroras de risos claros

como rotas de mel 

sobre as fendas que crescem na verdade dos rostos.


Ouso encher de borboletas incertas

os bolsos vazios do poema


algures entre um  voo desamparado

e o coração fértil

que me prende à terra.


Mas são de sal e silêncio os barcos

que me estendem as mãos.


No outono do mar sou a sede melancólica

e indizível 

um ocaso entediado


no movimento anónimo do corpo.


Corpo anoitecido de sombras e naufrágios

canto de esperas desajeitadas

no dorso noturno das águas plácidas

que me navegam.


BL






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