sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Um tempo abstrato


 


Há uma invisível roupagem de verão

labirintos de folhagens novas

indefinidos porvires

num tempo abstrato

que se entranha

e me acorda sentires.


Não o questiono

nem lhe pergunto de onde vem.


Será uma voz, um eco, um corpo

o voo de um pássaro

que ateia mistérios

no meu rosto.



BL







sábado, 7 de agosto de 2021

Manhãs ávidas de limpidez

 

Nessas manhãs ávidas de limpidez percorro a sabedoria das árvores

e recolho

as vozes pequeninas a que me agarro

e entrego às raízes renascidas do meu corpo.


Como fumo espartilhado

acenam-me sílabas brancas de uma infância a despedir-se

formas nítidas que o tempo não fechou.

Existem nomes e ecos de horas longínquas

que chegam e se distribuem no cenário em frente à casa.


E deste silêncio quieto e doce

rolam súbitas pedras

solitárias

o vento vertiginoso para

e a manhã alonga-se

sem asas proféticas.


BL

05.08.21






quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Fragmentos

 



Talvez este espaço não me pertença

e seja apenas um lapso da minha existência


desconheço o avesso cego do instante que permanece


há rios titubeando nas cinzas

dias que me sufocam na boca e deambulam

no medo de se sentirem movimento


será que o caminho se tornou memória

ou nele apenas me sinto pó?


a pausa acontece

estilhaçada em fragmentos que se procuram no vento

antes de serem menos que um crepúsculo

espoliado de inventário.


BL