Acumulo tempo em que não
sou. “Temos de valorizar o que temos” _ dizem-me. Mas aquilo
que tenho não é aquilo que sou. Não sou uma mulher de Fé. Não
tenho à minha espera um paraíso recheado de compensações. Não.
Tenho o aqui e o agora. Porque sou cada vez menos aquilo que sou.
Desdobrável. Por fora. Lá dentro acumulo tempo. Sei da minha
pequenez. Do meu lugar pequenino. Sei de um mundo maior. Sei de
milhões de criaturas que não têm. Que não são. Sei do poderio
dos donos do mundo. E dos seres pequeninos. Como eu. Às vezes, não
passo de uma pequena ave que do ninho tombou. Sou a fragilidade do
que não posso, do que não sei. Sou a desilusão do que me é
retirado. Do que me faz dobrar mais e mais para dentro de mim. Onde
acumulo tempo. E silêncio. E constelações de estrelas cadentes.
Sei da fome. Sei da guerra. Sei do meu lugar pequenino. Onde acumulo
o tempo. Em que não sou.
11.06.17
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