Nunca me disseste que partirias
ao romper do dia e que eu ficaria
a conversar com o gelo da noite que acabara de chegar
à procura de nós
e à procura dos nós que já não havia
para simular.
Ficou uma nuvem de chumbo
pendurada no teto
e em mim um abismo de memórias
descompassadas e um silêncio
de ervas daninhas
que
l.e.n.t.a.m.e.n.t.e
me entupia as veias.
E como nunca me disseste
eu não sabia ao certo
que palavras devia transmutar
para que pudesse conjugar a ausência das luas
nesse cinza prematuro.
Mas a pele sentia que
o sopro dos versos desnudaria um muro
onde rasgasse uma fresta e deixasse romper
a luz dos malmequeres
que aos pássaros viesse lembrar
que entretanto amanhecera e que
no poema que se fez manhã
já era primavera.
BL
27.01.11
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