terça-feira, 13 de junho de 2023

A luz dos malmequeres

 



Nunca me disseste que partirias

ao romper do dia e que eu ficaria

a conversar com o gelo da noite que acabara de chegar

à procura de nós

e à procura dos nós que já não havia

para simular.


Ficou uma nuvem de chumbo

pendurada no teto

e em mim um abismo de memórias

descompassadas e um silêncio

de ervas daninhas

que

l.e.n.t.a.m.e.n.t.e

me entupia as veias.


E como nunca me disseste

eu não sabia ao certo

que palavras devia transmutar

para que pudesse conjugar a ausência das luas

nesse cinza prematuro.


Mas a pele sentia que

o sopro dos versos desnudaria um muro

onde rasgasse uma fresta e deixasse romper


a luz dos malmequeres

que aos pássaros viesse lembrar

que entretanto amanhecera e que


no poema que se fez manhã

já era primavera.



BL

27.01.11





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