sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Nos interstícios da febre

 





Escrevem-se ainda
em murmúrios rasgados
palavras que a noite

nunca consentiu.

 

Um silêncio erguido em grito
suspenso nas pálpebras dos que amam demais
com os olhos perdidos
nas vísceras da distância.

 

Fome e verbo deslizam na pele
numa dança de líquida ausência.
Os corpos

órfãos do instante
trazem nas mãos
o sal e o ardor

do que nunca se cumpriu.

 

Despenham-se desejos
em tábuas febris de memória
onde o amor
se faz exílio e oferenda.

 

Somos criaturas maiores
de lume e mar
levando nos ombros
a espera em forma de espinho


e nos ventres a eternidade

suspensa de um beijo calado.

 

Escrevem-se ainda
nas margens do tempo
os amantes que só sabem existir em verbo.





BL


01.08.25

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