quinta-feira, 7 de agosto de 2025

Entre regras e ruínas

 







O poeta não fala.
Constrói silêncios com sílabas feridas
como quem fecha os olhos
para escutar melhor a dor.

 

A gramática arde.
Sangue em combustão recusa sintaxe
desenha no corpo uma oração sem deuses
onde o amor tropeça nas vírgulas
que não se justificam.

 

Nos dicionários
a eternidade corrige-se com lápis gasto.
Os verbos morrem de cansaço
entre definições que não souberam sentir.

 

E o verso?
Talvez seja penitência
uma escada quebrada
entre o coração e a boca.

 

O poeta escreve.
Erra.
Insiste.
Como quem salta do abismo
e espera que a luz venha a tempo de traduzir
a queda em linguagem.

 

Resta o homem
esboço cru
tatuado de metáforas
que não consegue amar sem sangrar.

 

E o poema
esse pequeno exílio
desaprende a nascer
com medo de ser vivido.







BL

07.08.25







Sem comentários:

Enviar um comentário