O poeta não
fala.
Constrói silêncios com sílabas feridas
como quem fecha os olhos
para escutar melhor a dor.
A gramática
arde.
Sangue em combustão recusa sintaxe
desenha no corpo uma oração sem deuses
onde o amor tropeça nas vírgulas
que não se justificam.
Nos dicionários
a eternidade corrige-se com lápis gasto.
Os verbos morrem de cansaço
entre definições que não souberam sentir.
E o verso?
Talvez seja penitência
uma escada quebrada
entre o coração e a boca.
O poeta
escreve.
Erra.
Insiste.
Como quem salta do abismo
e espera que a luz venha a tempo de traduzir
a queda em linguagem.
Resta o homem
esboço cru
tatuado de metáforas
que não consegue amar sem sangrar.
E o poema
esse pequeno exílio
desaprende a nascer
com medo de ser vivido.
BL
07.08.25
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