Escrevem-se ainda
em murmúrios rasgados
palavras que a noite
nunca consentiu.
Um silêncio erguido
em grito
suspenso nas pálpebras dos que amam demais
com os olhos perdidos
nas vísceras da distância.
Fome e verbo
deslizam na pele
numa dança de líquida ausência.
Os corpos
órfãos do instante
trazem nas mãos
o sal e o ardor
do que nunca se
cumpriu.
Despenham-se
desejos
em tábuas febris de memória
onde o amor
se faz exílio e oferenda.
Somos criaturas
maiores
de lume e mar
levando nos ombros
a espera em forma de espinho
e nos ventres a eternidade
suspensa de um
beijo calado.
Escrevem-se ainda
nas margens do tempo
os amantes que só sabem existir em verbo.
BL
01.08.25