sexta-feira, 11 de julho de 2025

Fragmento em contraluz

 







Rasguei a ausência

com dedos lentos

como quem se despe do tempo.


Aprendi a pele

na fricção suave dos dias


mesmo os dias que sangravam.



Aquele verão tinha margens de sal

e procurávamos terra

em bocas de fruta

sem polpa

sem perdão.



Tu eras voo

entre raízes.


Eu

um mapa sem norte
a tropeçar em sombras verdes.



Hoje

somos silêncio em trânsito.


O teu olhar

promessa aérea


o meu corpo

véu em combustão.



Neste lado da memória
o sol pisca palavras quebradas.


E a borboleta

imóvel

e sábia


murmura nomes esquecidos
sem idade

e sem língua.



No outro lado do tempo
a tarde escorre


como rio que não sabe
onde começa o mar.






BL

11.07.25








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