domingo, 27 de julho de 2025

Poeta sem mapa

 





Não tenho destino.
Sou feita de desvios
de frases que se perdem nas travessias
como sementes lançadas ao vento
sem garantia de solo.

A linguagem é minha bússola partida
cada verso um incêndio provisório
a iluminar só o suficiente
para tropeçar no próximo silêncio.

Recuso coordenadas.
A dor não obedece a geografias.
O amor não conhece rotas fixas.

Escrevo porque não sei dizer.
Porque o mundo me exige
uma resposta que não aprendi a dar
senão em metáforas quebradas.

Não prometo lógica.
Sou naufrágio com consciência
maré que escolhe afundar
todas as certezas que lhe ofereçam boia.

E mesmo assim
persisto.
Rabisco sobre a pele do tempo
como quem tenta lembrar o nome da luz
antes que ela se apague.

A minha voz não tem endereço.
É errância
é voo sem asa
é rasgo de sombra à procura de lugar.

Se me encontram
não é porque cheguei.
É porque alguém reconheceu
o som da ausência.






BL

27.07.25






1 comentário:

  1. E mesmo assim
    persisto.
    Rabisco sobre a pele do tempo
    como quem tenta lembrar o nome da luz
    antes que ela se apague.

    Todo poema muito bonito, mas este trecho me atingiu com força.

    Bom domingo, BL.

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