segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Entre a água e o verso

 

 



Como se desenha o sal
na margem dos teus olhos
se o mar já não reconhece
a geometria do abraço
nem o nome das conchas
que enterrámos no verão?

 

Há gestos que se perdem
como notas sem pauta
na pele que já não canta
e cartas que o tempo
dobrou em silêncio
no fundo da gaveta.

 

Se abríssemos o peito
à cartografia do esquecimento
e deixássemos


[ainda que com janelas fechadas
as vozes apagadas dos vizinhos
e os retratos sem moldura]


deixássemos
que o poema nos habitasse
como uma sombra leve
no bolso interior da memória

 

o tempo talvez não nos tocasse
com os dedos da pressa.


Só o mundo lá fora
continuaria a correr.





BL

13.10.25





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