Como se desenha o sal
na margem dos teus olhos
se o mar já não reconhece
a geometria do abraço
nem o nome das conchas
que enterrámos no verão?
Há gestos que se perdem
como notas sem pauta
na pele que já não canta
e cartas que o tempo
dobrou em silêncio
no fundo da gaveta.
Se abríssemos o peito
à cartografia do esquecimento
e deixássemos
[ainda que com janelas fechadas
as vozes apagadas dos vizinhos
e os retratos sem moldura]
deixássemos
que o poema nos habitasse
como uma sombra leve
no bolso interior da memória
o tempo talvez não nos tocasse
com os dedos da pressa.
Só o mundo lá fora
continuaria a correr.
BL
13.10.25
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