sábado, 25 de outubro de 2025

A sombra do candeeiro

 




Acendes o candeeiro da sala
mas a luz não chega
ao fundo dos teus olhos.

As fotografias tortas na estante
sorriem com dentes de papel.

E tu
finges que não ouves
o ranger da madeira
sempre que te sentas
no sofá da infância.

Lá fora
o portão enferrujado ainda geme
com o vento
como se chamasse por ti.

Mas tu não vais
não atravessas o jardim seco
nem pisas as folhas
que guardam os passos
que não deste.

Ficas
na penumbra do corredor
onde o tempo se dobra
como lençóis esquecidos.

E pensas que ninguém repara
pensas que és invisível
mas até o silêncio
te denuncia.

Essa casa que (não) habitas
já não te pertence
foi-se com os verões
em que corrias descalço.

Agora só restam
paredes que te olham
e um espelho
que já não devolve
o teu rosto.




BL

25.10.25








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