O espelho não devolve nada.
A pele é uma superfície neutra
onde os dias se encostam
sem deixarem marca.
Falo comigo
como quem escreve num vidro embaciado.
A frase desaparece
antes de ser lida.
Há um cansaço que não se nomeia
mas que pesa nos ossos
como se o tempo fosse um líquido
sem recipiente.
E ainda assim
continuo a vestir-me
como quem espera visitas.
BL
04.10.25