segunda-feira, 30 de junho de 2025

Arquivos líquidos do corpo

 






Os dedos passam pela pele da água

e esquecem que são corpo.

Escuto.

É a infância

a sede

os nomes de quem partiu

sem dizer adeus.



Há vozes que só a água entende.



Pulsam

na vibração dos gestos que permanecem

transfigurados.



Tenho rios por dentro

estações que não chegaram a acontecer

e um mar antigo

que se move

quando fecho os olhos.



Há vozes que só a água guarda.



O sal sabe histórias do meu nome

antes de mim.



Cada lágrima é um mapa.



O corpo lê-se em camadas de sal.

As quedas

os toques

as ausências que molharam os ossos.



Há palavras que não sabem ser ditas.



Guardam-se

entre vértebras de silêncio

onde a água decanta a dor

escrita por dentro.






BL

30.06.25









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