quinta-feira, 19 de junho de 2025

Antes do chão

 






O tempo encosta-se

ao meu corpo

devagar.

Já não dói

é peso

como um nome a esquecer.


Os passos desfazem-se

antes de tocarem o chão

e o eco

[ se ainda existe ]

aprendeu a calar-se.


A luz não ilumina.

Passa por mim

como mãos que não sabem despedir-se.


Há uma morte que não chega.

Ocupa o espaço

entre o meu olhar

e o mundo.


A despedida vem sem rosto.

Acontece dentro de mim.

Um desfiar lento do que sou.

Não há corte.

Somente ausência

a escorrer pelos dedos.


Algo se molda

em silêncio

no outro lado do instante.


Tudo o que fui

perde contorno.

Tudo o que vem

ainda me desconhece.


E aqui

neste intervalo do quase

sou pele

a (des)aprender a memória.






BL
19.06.25









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