Deambular de novo no interior
de um tempo quieto. Um tempo
em que a ilusão era a verdade a emergir
em cada rosto, em cada curva do pensamento.
Sem medos, sem fantasmas.
Reencontrar-se por dentro de si
quando a crença bastava para traçar a vida
como uma qualquer regra de gramática.
Havia luz nas incertezas da voz
ateada de um fulgor inocente
e o olhar longo, vagaroso nos verbos da tarde
era refúgio da vertigem do poema.
De repente, a vida a revolver a sorte
a gemer idades amarradas a margens
onde morrem acasos ou devaneios.
A arte de esquecer como rua
onde moram pedras e poentes.
Quantas vezes se acertaram os ponteiros
da alma?
Pouco a pouco dói o tempo
a dissolver-se nas veias
porque já não existem árvores onde escrever.
BL
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