sábado, 3 de julho de 2021

Havia luz, nas incertezas da voz




Deambular de novo no interior

de um tempo quieto. Um tempo

em que a ilusão era a verdade a emergir

em cada rosto, em cada curva do pensamento.

Sem medos, sem fantasmas.

Reencontrar-se por dentro de si

quando a crença bastava para traçar a vida

como uma qualquer regra de gramática.

Havia luz nas incertezas da voz

ateada de um fulgor inocente

e o olhar longo, vagaroso nos verbos da tarde

era refúgio da vertigem do poema.


De repente, a vida a revolver a sorte

a gemer idades amarradas a margens

onde morrem acasos ou devaneios.

A arte de esquecer como rua

onde moram pedras e poentes.


Quantas vezes se acertaram os ponteiros

da alma?


Pouco a pouco dói o tempo

a dissolver-se nas veias


porque já não existem árvores onde escrever.


BL






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