terça-feira, 11 de julho de 2023

grito

 


 … e leva o mundo atado

àquela bolha de ar que lhe sobrou dos olhos. Embrulha as histórias

em papel de mortalha

e espalha os gemidos dos afetos

entre as cinzas das memórias


arrasta pela noite

a partitura nua em que tece os dias

caminha descalço sobre os nomes

em que a vida entardece


… e o silêncio move

aquela bolha de ar que lhe sobrou dos olhos

onde a voz antiga é um lugar

sem espaço

e o compasso do verso

corpo sem gesto

fendas

a descerem do tempo

palavra-peso

grito


e as aves a tombarem nas raízes dos passos

naquela bolha de ar onde gastou o que lhe sobrou do mito

e lhe sugou o luar.



BL

18.02.12





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