sexta-feira, 19 de setembro de 2025

O centro do relâmpago

 





A paisagem do mundo fechou-se em círculo
quando te vi

imóvel

ao fundo


como se o caos tivesse uma pele lisa
e nela repousasse a harmonia.

 

Sob a água do lago
a quietude respirava o teu nome.
Montanha em silêncio
força oculta no teu gesto mínimo.

 

Há em ti coisas que só o tempo revela.
Filigranas de sombra
linhas que o olhar não alcança
sem se perder.

 

Ceguei por te ver demais
por tocar o centro do relâmpago
em noite sem nuvens.


Agora

há cores que se movem
dentro dos meus olhos
quentes e frias


como o teu perfume na trovoada
que chega mansa no fim da primavera.

 

Deito-me sob a árvore onde o fruto
nos deu a boca.


Bagas brancas caem como promessas
à volta do nosso silêncio.
A luz trespassa a sombra
e encontra a tua pele.

Um pássaro soprou-nos um segredo
em troca de amor.

 

E eu vi tudo isso
antes de cegar por ti.






BL

19.09.25





 

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