segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Os berlindes da solidão

 






Os bolsos cheios de berlindes

às cores

de palavras

e de dores.



Não utilizava a palavra

em zonas de argumentação.

Cheio de silêncios



baixava o olhar

a procurar um grão

de culpa alheia



ou de solidão

para sacudir das pernas das calças

ou das solas dos sapatos.



Sem traçar planos

saía para captar um plano



que guardaria

na gaveta do esquecimento.



Entrelaçava o tempo

em mágoas

e o que não teria de fazer.



E os berlindes às cores

à beira do abismo.


No vidro da mesa o reflexo da queda

a fuga.



Sem crença de salvação

a queda ficou à espera.



BL

05.01.25






domingo, 5 de janeiro de 2025

Calam-se os dias

 

Lá fora
um claro-escuro imutável
como se o amanhã encenasse momentos
ocultos em cada domingo.
Todos os momentos são perfeitos para serem nuvens
eterna é a força do tempo
mas só agora me permito ouvir o silêncio
e libertar o corpo do desassossego das horas.

Adormeço ao sabor do vento
aguardando o ruído da vida
que sufoca sob um rio enregelado
e um céu crispado de solidão.

Lá fora
cala-se a chuva
e eu sento-me no horizonte a vender sonhos
a amadurecer versos
a partilhar as cores de um nada
entre o gélido olhar do infinito
e a sílaba ancorada nos mares desérticos da Lua.



BL





sábado, 4 de janeiro de 2025

Refúgio de memórias

 





O amor ardia

reparador de promessas

maceradas.



Ignoraste-o

contudo

na neblina indistinta

daquele inverno plácido

e cruelmente faminto.



Podias ter dito do começo

às avessas

da falácia da estrada.



Mostraste-me a forma angular

de acreditar numa voz



numa cor de estio

que alonguei até ao infinito.



Tivesses sido tu o meu tempo!

Um lugar onde

cada extremo se abraça

e se despede.

O meu lugar!



Não seria somente a memória

o meu refúgio uterino.




BL

 04.01.25















quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

Passos na escuridão

 




Deita-se ao largo de

um farol noturno

almeja um mar de sol nascente.



De quantas nuvens se faz

um colo,

mãe?



Tapa a insónia

com a luz grande.



Podes pintar-me

a cor do silêncio,

mãe?



Enterra os pés

em areias desertas

sem saber que trilho seguiu.



Sopram-lhe passos

as conchas dos búzios.



São os teus passos,

mãe.

São meus os teus passos

dentro da escuridão.





BL

02.01.25