Sou vento.
Sou plátanos.
Espirais
em amarelo,
ocre,
sangue.
Redemoinhos
de castanho
e asfalto.
Turbilhão
de brancos
azuis
e cinza.
Sou ébano,
marfim.
Sou Abel
ou Caim.
Sou guerra,
sou paz.
Sou eu
que
sem saber
não sei de mim.
BL
13.11.1989
Sou vento.
Sou plátanos.
Espirais
em amarelo,
ocre,
sangue.
Redemoinhos
de castanho
e asfalto.
Turbilhão
de brancos
azuis
e cinza.
Sou ébano,
marfim.
Sou Abel
ou Caim.
Sou guerra,
sou paz.
Sou eu
que
sem saber
não sei de mim.
BL
13.11.1989
És talvez o silêncio do
poema
a conter-se
ao fundo dos olhos
o reflexo da pedra num
espelho convexo
o verso esmagado pela demora
do tempo.
És
talvez um eco
um murmúrio do vento
a margem sombria de um
regato em viagem
a face traída
do sentimento.
És
talvez a minha voz ausente
a imagem esquecida
num hiato
a
linguagem fria do presente
o desdém da palavra a gritar
invernia
num tempo que morre
seco
dia a dia
hora após
hora
lá fora.
BL
Nas tuas palavras
o lado de dentro
para o que resta de mim.
Olho a janela
e procuro um domingo
as ruas
a luz
de um domingo
do outro lado
do tempo.
No meu corpo
guardo fotos
tempos sem fim
e é-me difícil respirar
neste tão pouco
que sobra de mim.
Nas tuas palavras
a vontade de ser tempo
o silêncio
da minha crueza
a certeza
de a perder de vista
por detrás da opacidade
da minha lúcida
insanidade.
BL
01.06.11
segura para ti o tempo
dizias
e na parede
desenhavas janelas de sombras
guardiãs do teu olhar limpo
e dos sonhos mais puros
memórias de vozes
histórias de silêncios.
BL
13.09.23
Queriam crescer
as flores
entre as pedras
e a terra ressequida.
O céu era azul
o olhar também.
E para lá das pedras
para além da terra-túmulo
caminhava o medo
a procurar
abrigo
num olhar azul
perdido entre escombros
e céu sem horizonte.
Um vulto
nítido
no centro da mira.
E um ponto
vermelho
à espera.
BL
09.09.23